sexta-feira, 2 de maio de 2008

Duas Rosas






Por Guilhermo Breytenbach Bazárov de Mont Serrat


Seus braços magros e brancos estenderam-se, com dificuldade, até encontrarem o ramo verde cheio de espinhos. Entre as grades seu rosto pálido se espremia naquela expressão entre aflição e desejar. O sangue começava a represar-se bem na altura dos ombros espremidos pela ferrugem da grade velha, vermelha e dura. Com grande esforço as alcançou. Pareceu até, de súbito, duas porções de vermelho sangue. Em suas mãos. Duas rosas tontas. Como aquelas presas a sua garganta, gritando-lhes silenciosamente lá no fundo!
Bom, desde que caíra neste mundo cheio de pólvora e pó, caminhou meio cambaleante e disperso, capturando as pequenas coisas que dos outros não podia receber, e que também os outros, que não podiam ver e ter. Pois bem, perguntava-se. Dois homens são feitos da mesma terra, da mesma beleza pequena e vã, mas são únicos. Nos labirintos dessa terra mansa e grande são tão insubstituíveis e belos como essas duas rosas, cheias de rubros sangues e espinhos. Que talvez se descobrem, se olham fixamente com seus olhos vegetais de rosas. Buscando no outro algo perdido em si mesmo. Procurando sempre, para não dizer que já está tão cansada e que não agüenta mais. E assim podem ser com os homens, como esses seus dois homens-rosas imaginados. Mas não, não, nem sempre. Dois homens podem mais que isso, podem ser aquilo que escondemos de nós mesmos, no lado mais escuro e fundo, onde somente fumaça e sombras ousam caminhar. E é por isso, por causa esses homens-bichos, que então os homens insistiam em se desprezar e humilhar, como em estranhos cultos ao tanatos e ao eros negro dos abismos da fome, da dor e da podridão?
Mas o porquê, então disto, se duas rosas podem ser tão belas-tristes e únicas, e mesmo aquelas de pétalas rasgadas, nascidas a fórceps prometidas ao pó ou às mandíbulas do bichos ou dos homens bestas, pode estar onde? Qual é, pois a razão dessa falta de razão enternecida? - se perguntou voltando a si, com um espinho cravado nos dedos. Na rua, os carros que corriam entre vesgas de pedra, - e nada fazia com olhassem para aquele menino com duas rosas na mão, parado ali, meio tonto. Mas, se os carros nem olham e nem me falam? – pensou, por vezes, é bem verdade, até os carros olham e falam.... Cospem fogo e gritam pelas suas ventas loucas, com seus pequenos homens presos em seus ventres ocos.

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