Pensando sobre ontem lembrei o que dizia Boudelaire: "É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser"
Mas disso que me aconteceu, ontem, hoje e talvez amanhã -, sem ao certo saber o porquê. Minha compreensão, mística materialista, não vai muito além. Dilui-se em teu rosto, no céu e entrelaço-me de dúvidas, neuroses e amores. Eu não posso ser um, tenho que ser a ficção de mim mesmo - sou eu a Legião, uma legião de eus: fantasmas, leões e fúrias.
Está certo – bem certo - você calou-me nos olhos tentou desvendar-me as almas todas, plurais reflexos lacustres, quando eu à mirar para os lados me escondo em minhas sombras, em meus mistérios, segredos e púrpuras dores. Tenho medo de mim, de meu lado sombrio, da minha fúria, de minha fome. Fumaça e álcool são fontes de mar, silêncios e Bazárovs.
Música e verbo – linguagem? Tudo se resume à isto: linguagem? Sou e somos apenas um contingente acidente físico-químico – e não somos aquilo de etéreo que queremos. Acaso físico-químico provido de linguagem? Ironia boba. Risos. Ficção, de um tempo, de nós, e de fogo.
Bom, eu te disse muitas coisas. Eu te disse poucas coisas. Eu te disse: “não acredito em mais nada”, pois tudo é nada e nada é tudo. E é disso, desta falta, - falta negar – falta afirmar, pois somente se nega algo que existe, que é – assim é de onde vem minhas forças tolas... Para continuar trilhando, entre nossos silêncios e tantas ausências. Certo, bem, você tem toda razão, as ausências são insuportáveis, tristes; sombras cinzas, roxas, azuis e escarlates – mas por que não somos o todo etéreo e eterno nos dói um pouco. Viver dói, e dói viver. Viver dolorido e trágico de nossas cotidianas crises insignificantes, e tão grandes. O Universo existe por que eu existo, sob meus/teus olhos, esse Universo é. Sem mim, nada é. Eu sou tudo. Você é tudo.
Guilhermo B. de Mont Serrat
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