segunda-feira, 26 de maio de 2008

Falta de Ar II


Confesso que já no título eu me vi dentro: Falta de ar. E aí, sufocado, encarcerado, esfumaçado como tenho cada vez mais se sentido aqui nesse absurdo, ou melhor, nessa cidade, comecei a ler. E também confesso que a sensação de falta (de ar, de cor, de leveza, de vigor e de vida) pelo excesso (de fumaça, de carros, sobretudo de carros!, de produtos, de pessoas, de lixo...) também só aumentou quando cada palavra me trazia ainda mais para perto do centro, do centro dessa vertigem com nome de santo, da qual tenho me preservado (ou pelo menos tentado) à distância dessa outra margem da marginal. E por isso parei. E por isso não quis. Não quis mais saber dessa sempre mesma repetição de desastres que é São Paulo, e que o seu texto (por isso mesmo, muito bom!) repetia do jeito mesmo que o faz, todos os dias, essa cidade. Parei, por já saber (ou por achar que sabia, e sabia!) o que viria na sequência, depois de dobrar um, dois, oito anos, tantas esquinas, e ver sempre o mesmo descuido, o mesmo pouco caso, , o mesmo cinza sequer melancólico, a mesma gente automática. Parei por não querer saber mais do desfecho (concedam-me esse direito depois de tanto tempo de aposta e paciência e compreensão) que se segue ao texto mais que futurista, mais que concreto, mais que pós moderno dessa metrópole. Tudo é excessivo, e meu cuidado é por decrescer. Ficar só com o que resta, que é vida, e deixar todo o aparato pra eles, aqui, encantados com o carro novo estacionado no meio da Rebouças entre 6 milhões de carros novos, velhos, iguais. Deixa pra eles o barulho das buzinas, a neura da rádio ligada informando que o trânsito de São Paulo não anda, todo dia todo dia todo dia. Deixa pra eles esse "prazer" (que nunca entendi!) de ocupar filas pra comprar o lanche e depois, engordurados por dentro, maltratados, pisados, excessivos, esvaziados, ver as vitrines, a modelo magrinha magrinha. Deixa pra eles os encontros de dez minutos, depois de 2 horas combinando pelo celular. Pra eles, o parque lotado do domingo e cercado por asfalto. Deixa que briguem essa briga dos ruídos querendo se sobrepor, das mortos com os carros, dos carros com os ônibus, dos helicópteros com - o céu. Não sou de briga. Quando entro na parada é pra lutar. E pra lutar tem que ter sabido ficar quieto, escutar... Meu negócio é o silêncio: já basta o meu caos. Então, vou nessa, vou, e é logo mais. Fica o texto lido do jeito que pude ler, nessa medida do impossível, nesses recortes e (maus)bocados, nessas idas e vindas, nesse repentino bloqueio que é mesmo como as coisas são por aqui. A alguns quilômetros, a cortina se abrindo, luz, cor, a beleza da coisa pouca. Nessa hora, fica também pra eles o cinema, todos os milhares e milhares de filmes engolidos na avidez por cultura, pra que o tempo passe, pra que a gente se divirta, pra que haja do que falar, pra que, pelo menos na tela, exista um outro lugar. Nessa hora, fica pra eles todas as peças de todos os teatros e os personagens que se fantasiam pra desaparecer (ao tentarem serem vistos) no meio da multidão. Os shows, os concertos, as os museus, as manifestações. Fica pra eles o tempo, sobretudo o tempo que eles, na ansiedade da espera, à caminho, sempre a caminho (do cinema, do teatro, dos museus, , das fantasias, dos concertos, dos shows...) não terão. Nessa hora nem sequer olho pra trás. Os quilômetros se ampliam, como os sorrisos nas caras dessa gente que vê as estrelas, e não sabe de nada. Nessa hora, quero mais é céu, tanto tempo esquecido; quero mais é chão, tanto tempo coberto; quero mais é vida, tanto tempo guardada, por não encontrar lugar. Nessa hora, São Paulo fica, e fica ainda mais nebulosa, ensombrecida; tudo fumaça !

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