Por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes
Jornalista formado, estudante de História (USP – último ano), tradutor e professor de francês
Filiado ao Grenpeace (www.greenpeace.org.br),
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Todo movimento político seja ele de qualquer caráter, seja institucional ou não - e principalmente aqueles que se definem como esquerda dentro do gama de forças políticas em algum momento de sua história têm que reformular suas concepções, repensar seus programas e principalmente mudar sua configuração e as suas formas de práxis políticas. Penso que as esquerdas brasileiras encontram-se presentemente neste apropriado momento.
Uma circunspeta reflexão deteria então ser feita por todo brasileiro que se considera de esquerda, e muito mais por aqueles que participam de algum movimento social ou partido político. Esta reflexão, ao meu ver, envolve uma coisa muito importante: afinal, enfim, o que presentemente é ser de esquerda?
Hoje ser de esquerda é como afirmava Norberto Bobbio, buscar a realização do ideal da igualdade e liberdade, com pressuposição radical de pluralismo, laicidade e democracia. Está na hora de abandonar o falido pressuposto de classe, e nortear-se por esta busca de democracia radical. Isso significa deixar de lado velhos ícones ou modelos, já desgastados por suas pretensões totalizantes e antidemocráticas, como são, por exemplo, a "revolução" russa, o marxismo e todos aqueles infantilismos fetichistas com relação ao trabalho.
Se por um lado o partido deve afastar-se de qualquer figura história não democrática (Lênin, Trotsky, Stalin, Fidel etc), do mesmo modo não deve aproximar-se de populistas com tendências autocráticas como o é na atualidade Hugo Chaves. A esquerda brasileira, além disso, deve reorientar-se teoricamente por um novo pensamento de esquerda; e eles são vários: Alain Badiou, Giorgio Agamben, Judith Butler, Chantal Mouffe, Peter Sloterdijk, Robert Kurtz, Michel Maffesoli mas, sobretudo o grande intelectual que é hoje o italiano Antonio Negri com suas brilhantes formuçaões sobre o Império e a Globalização. Entretanto, é claro, a esquerda pode e também deve pensar de forma autônoma, sem adotar cartilhas ou impor posturas. Não importa de onde venham as idéias, o que importa é que visem libertar o homem da opressão; experimentadas cotidianamente pela maioria dos homens.
Isso tudo, na prática significa, em um novo contexto político-econômico mundial, a esquerda democrática (aquela que não é democrática não pode ser esquerda, mas sim direita – mesmo que se chame de esquerda) assumir e defender uma prática política profundamente social, ecológica e pluralista, que reconheça as diferenças (orientação sexual, gênero, religião, classe etc), e que reconhece ao mesmo tempo a radical igualdade dos indivíduos - iguais de fato em direitos e deveres, perante a República que deve ser laica e pluralista. Negar isso, e fingir não ver que grande parte da população brasileira vive fora do Direito, em eterno estado de exceção e sítio.
Ao assumir uma nova crítica política, aquela que separa radicalmente o público do privado, e que incide sobre aspectos horripilantes e cotidianos como são, por exemplo, as tecnocracias, a ciência por ela mesma, a guerra.... O horrível pesadelo que foi o século XX, aquele do utilitarismo, dos nacionalismos, dos esquerdismos classistas infantis) deve, por fim, acabar! A esquerda deve defender sempre a pluralidade.
As esquerdas podem defender agora e quiçá empreender uma nova política econômica e social; baseada sim no real, no ser humano, mas também em um cosmopolitismo pluralista - aquele que visa o bem de todo e qualquer homem e mulher deste planeta. Isso significa também uma união política e econômica com a América ibérica, assim como com todos os outros povos que aceitem pactuar deste cosmopolitismo pluralista e social. No limite, isso pode significar defender a abertura das fronteiras para todos homens ou mulheres do mundo, e aceitar o diferente, e tornar o Brasil um país para todo homem e mulher que para cá deseje vir e viver.
Para isso, a esquerda precisa urgentemente defender reformas sociais e institucionais: reforma trabalhista, reformas políticas, reformas no sistema policial ou por que não até mesmo a convocação de uma Nova Constituinte, que atualize as instituições brasileiras tornando-as radicalmente democráticas, pluralistas e profundamente cosmopolitas - ao novo estado mundial. O Brasil pode dar um exemplo abrindo radicalmente suas fronteiras para todos os homens.
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