quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Marcha Contra Homofobia – Pelo PLC 122

Local da Marcha: Concentração na Praça do Ciclista (próximo ao cruzamento da Paulista com a Consolação), com destino final Edifício 777 da Avenida Paulista.

Quando? Sábado, 19.02.2011, às 15h

Traga um guarda-chuva colorido!

———————————————————————————————————————————–

À véspera do último feriado da República, um rapaz de 23 anos foi atacado pelas costas, com uma lâmpada fluorescente, por outro jovem de 19 anos, em frente ao número 777 da Avenida Paulista. O motivo? A vítima aparentava ser gay.

Outros 250 brasileiros tiveram destino muito pior em 2010: foram assassinados, unicamente por serem gays, lésbicas, bissexuais, intersexuais, transexuais ou travestis. 500 pais perderam seus filhos e, talvez, arrimos de família para a ignorância; outros milhares perderam seus parentes, amigos e colegas de trabalho para o ódio insensato.

Incontáveis outros fizeram como Iago Marin, um adolescente de catorze anos que, por não suportar o constante assédio dos colegas de escola, se suicidou em meados de 2009.

Ainda que agressão e assassinato já sejam crimes, o preconceito, que é a origem dessa violência sem sentido e que se concretiza diariamente por meio de ofensas verbais e tratamento discriminatório nos mais diversos ambientes sociais – nos estabelecimentos comerciais, no trabalho, na escola ou na família – ainda não é adequadamente coibido. Se a raiz desse mal não for exterminada, ou seja, se a discriminação em sua forma mais sutil não for eliminada, dificilmente veremos o fim da onda de violência homofóbica.

De fato, há cerca de dez anos, os Estados de SP, RJ, MG e RS criaram leis estaduais que punem atos de discriminação por orientação sexual e identidade de gênero com advertências e multas, dentre outras sanções.

Essas leis, porém, não impediram as inúmeras agressões recentes contra a comunidade LGBT, ou que sequer um soldado, agente do próprio Estado, baleasse um jovem de 19 anos, logo após a Parada Gay no Rio de Janeiro, em 15.11.2010, dia seguinte ao ataque da lâmpada.

É necessário, portanto, ir além dessas leis pouco eficazes e tornar crime qualquer ato que discrimine um ser humano, meramente por ele sentir afeto por outro do mesmo sexo (gays, lésbicas, bissexuais) ou por se identificar com o gênero oposto (travestis e transexuais).

A Lei contra o Preconceito (Lei 7.716/1989) já garante proteção contra a discriminação por “raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. A comunidade LGBT, junto com as pessoas com deficiência e com os idosos, exigem que essa Lei também passe a abrangê-los, a fim de que sua dignidade e seu direito fundamental ao tratamento igualitário sejam adequadamente protegidos pelo Estado brasileiro.

Para tanto, é necessário que o Projeto de Lei da Câmara nº 122/2006, que criminaliza a homofobia, bem como a discriminação das pessoas deficientes e dos idosos, não seja arquivado pelo Senado e seja aprovado pelo Congresso.

Assim, convidamos todas as cidadãs e cidadãos que se solidarizam com a comunidade LGBT, as pessoas com deficiência e os idosos a se reunir no dia 19.02.2011, sábado, na Praça do Ciclista, em São Paulo, para marcharmos juntos, em apoio ao PLC 122/2006, até o número 777 da Avenida Paulista, onde ocorreu um dos ataques homofóbicos.

Confirme sua presença e ajude a divulgar o evento:

MARCHA CONTRA HOMOFOBIA – PELO PLC 122

Saiba mais acessando os grupos do Facebook:
Ato Anti-Homofobia
Ação Anti-homofobia – Alexandre Ivo

sábado, 15 de janeiro de 2011

Tu Queres Sono: Despe-te dos Ruídos



Tu Queres Sono: Despe-te dos Ruídos

Ana Cristina Cesar



Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.


Ana Cristina Cesar, ou Ana C., como era conhecida, nasceu em 1952 nesta cidade do Rio de Janeiro. Após 1968, passou um ano em Londres, fez algumas viagens pelos arredores e, na volta, deu aulas, traduziu, fez letras, escreveu para revistas e jornais alternativos, e saiu na antologia "26 Poetas Hoje", de Heloísa Buarque. Publicou, pela Funarte, pesquisa sobre literatura e cinema, fez mestrado em comunicação, lançou seus primeiros livros em edições independentes: "Cenas de Abril" e "Correspondência Completa". Dez anos depois voltou à Inglaterra, graduou-se em tradução literária, escreveu muitas cartas e editou "Luvas de Pelica". Trabalhou em jornalismo, televisão e escreveu "A Teus Pés", Editora Ática - São Paulo, 1998, de onde extraímos o texto acima. Suicidou-se no dia 29 de outubro de 1983.

Ítalo Moriconi escreveu: "Ana Cristina dizia que uma das facetas do seu desbunde fora abandonar a idéia de ser escritora, livrar-se do que ela naquele momento julgava ser sua face herdada, o estigma princesa bem-comportada, alguém marcada para escrever".

Fonte: http://www.releituras.com/anacesar_sono.asp

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Um última pergunta - Entrevista com Augusto Patrini

Um última pergunta - Entrevista com Augusto Patrini

Arte e Entretenimento - Sem Açúcar

Avatar

Algumas pessoas enviaram-me mensagens dizendo que a entrevista com Augusto Patrini ficou com um "gosto de quero mais". Ele, então, nos respondeu mais uma pergunta:


[Paty] 1. Com o passar dos anos a mobilização GLBT vem crescendo. Com este crescimento, aumentaram os festivais, as mostras, os filmes, vídeos e diversas outras formas de manifestações artísticas que retratam este universo. Como vc enxerga estes crescimentos? Como eles auxiliam no processo de politização do movimento GLBT? Estas obras, um modo de instigar na sociedade uma maior compreensão deste universo dantes extremamente marginalizado?

[Augusto] Sinceramente penso que estes festivais de cinema LGBT, do tipo do MixBrasil, pouco contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população LGBT no Brasil. Acho mesmo, em particular no caso específico do MixBrasil, que são apenas mais uma manifestação da “espetacularização” da vida, e da comercialização-absorção das manifestações artísticas realmente legítimas. Essas manifestações do “Espetáculo” no sentido que deu Guy Debord em seu célebre livro “A Sociedade do Espetáculo” de 1967 não contribuem em nada para a politização das comunidades humanas, incluídas aí a LGBT, mas ao contrário são mecanismos de promoção do esvaziamento, da fragmentação e da despolitização. Neste tipo de festival não importa a expressão artística, e a qualidade das representações sócio-estéticas, mas apenas o caráter comercial e, principalmente, consumista. Estes festivais comerciais e “espetacularizados”, assim como as grandes exposições, manifestações histéricas de um vazio sócio-psicológico, empobrecem e retiram das obras de arte que apresentam seus possíveis elementos críticos e contestatórios.

Talvez a única importância do MixBrasil em particular seja dar alguma visibilidade a expressão homoafetiva dentro de uma sociedade heteronormativa, violenta e repressora como é a brasileira. Entretanto, na forma em que vem acontecendo nos últimos anos tornou-se somente a manifestação do gueto homossexual expandido – o que acaba criando uma falsa e enganosa sensação de liberdade. Essa sensação de falsa liberdade é extremamente prejudicial para a luta dos direitos da comunidade LGBT. Não vejo com bons olhos a “comercialização” da luta por direitos civis e políticos da comunidade LGBT, penso mesmo que o chamado “pink money” é antes um obstáculo para a conquista da liberdade e igualdade do que um fator positivo. O chamado pink money vive justamente do fato terrível que LGBTs precisam nesta sociedade heteronormativa “esconder-se” ou “proteger-se”, ou permanecer um uma “zona de conforto em que contem com uma sensação de falsa-liberdade - em lugares, festivais, shows, peças ou “espetáculos” que carreguem o rótulo “Gay”. Ou seja, o pink money só existe porque existe o preconceito, a homofobia e a discriminação. Quando não existir mais homofobia, não existirão mais festivais ou boates gays, já que a expressão homoatetica será cotidiana e muito mais presente em manifestações midiáticas e artísticas.

Além disso, sejamos sinceros, a qualidade dos filmes selecionados por esse festival (Mixbrasil) em particular, é sofrível - com pouquíssimas exceções. Encarnar-se como gay ou lésbico, não é garantia de qualidade estética para nenhum tipo de obra de arte, e não seria diferente para o caso do cinema. Infelizmente a qualidade das manifestações “artísticas” que auto-rotulam como gays – literatura ou filmes – é em termos qualitativos pouco significativa.



Adicione esta página ao seu Marcador Social favorito
Digg! Reddit! Del.icio.us! Google! Live! Facebook! StumbleUpon! Yahoo! Joomla Portal

Cinema e Política - Entrevista com Augusto Patrini

Cinema e Política - Entrevista com Augusto Patrini

Arte e Entretenimento - Sem Açúcar

Avatar

Realizamos uma breve entrevista virtual com o historiador Augusto Patrini Menna Barreto Gomes. Encaminhamos a ele três perguntas breves e sucintas sobre cinema e política, estas seguem abaixo, juntamente às respostas:

[Paty] 1. Gostaria que me falasse quais relações possíveis você vê entre cinema e política?

[Augusto] Penso que na medida em que tudo tem um conteúdo político, todo cinema é político, inclusive aqueles filmes considerados de entretenimento, diversão ou de baixa qualidade. Filmes para o grande público “vendem”, assim como os filmes “engajados” idéias políticas e concepções de mundo, geralmente atreladas ao pensamento hegemônico e ao funcionamento do sistema social e econômico vigente. É muito importante para o sistema dominante vender aos grupos sociais e indivíduos, seu modo de vida, e garantir a aceitação passiva dos mecanismos de manipulação e aprisionamento (trabalho, consumo etc)

Já os chamados filmes engajados são filmes que pretendem evidenciar estes mecanismos de manipulação, opressão e/ou exploração. Partem de um ponto de vista eminentemente crítico para levar as pessoas que o assistem a uma reflexão crítica.

[Paty] 2. Quais as diferenças entre estas e cinema panfletário?

[Augusto] Penso que a diferença entre cinema político e cinema panfletário é justamente que o primeiro partindo de uma perspectiva crítica não tenta impor uma visão de mundo, mas fazer com que as pessoas pensem autonomamente. Já o cinema panfletário pretende “provar” ou impor uma verdade.

[Paty] 3. Quais encadeamentos tais obras podem desenvolver na sociedade?

[Augusto] Assim como o mundo material atua sobre o mundo das idéias, as idéias e suas representações atuam sobre o mundo econômico e social. Cinema, assim como idéias, pode estimular o pensamento crítico, propor transformações e alterar cenários. No limite, todo tipo de cinema ou representação traz conseqüência para o mundo cultural e social.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Augusto Patrini Menna Barreto Gomes

“É Historiador pela USP (2009), comunicólogo e jornalista pela UTP (2002). Mestrando na USP em História Social, na área de Teoria e filosofia da História.Também atua na área de história da cultura intelectual. Tem cursos em língua, cultura e história francesas na Université de Caen. Possui os diplomas DALF e DELF. Atua como tradutor Francês/Português, professor de francês e pesquisador em História Social e Teoria da História. Tem experiência na área de tradução (Francês/português) História e jornalismo com ênfase em tradução, História das Idéias intelectuais na América Latina e Europa e Teoria da História. Atuou principalmente nos seguintes temas: Teoria da História, História da Cultura, Idéias e História Intelectual e das Idéias (PIBIC)França, Tradução, México, Argentina, Brasil, América Latina, História Contemporânea. Atualmente tem interesse em Tradução, Teoria da História, História Intelectual e da Cultura, com ênfase interdisciplinar, e especial interesse por Teorias e filosofias da História e História da Cultura Intelectual.”

(Fonte: CNPQ)


Para mais informações sobre o entrevistado: http://www.augustopatrini.com.br/#

XLIV - Réversibilité



Ange plein de gaieté, connaissez-vous l'angoisse,
La honte, les remords, les sanglots, les ennuis,
Et les vagues terreurs de ces affreuses nuits
Qui compriment le coeur comme un papier qu'on froisse?
Ange plein de gaieté, connaissez-vous l'angoisse?

Ange plein de bonté, connaissez-vous la haine,
Les poings crispés dans l'ombre et les larmes de fiel,
Quand la Vengeance bat son infernal rappel,
Et de nos facultés se fait le capitaine?
Ange plein de bonté connaissez-vous la haine?

Ange plein de santé, connaissez-vous les Fièvres,
Qui, le long des grands murs de l'hospice blafard,
Comme des exilés, s'en vont d'un pied traînard,
Cherchant le soleil rare et remuant les lèvres?
Ange plein de santé, connaissez-vous les Fièvres?

Ange plein de beauté, connaissez-vous les rides,
Et la peur de vieillir, et ce hideux tourment
De lire la secrète horreur du dévouement
Dans des yeux où longtemps burent nos yeux avide!
Ange plein de beauté, connaissez-vous les rides?

Ange plein de bonheur, de joie et de lumières,
David mourant aurait demandé la santé
Aux émanations de ton corps enchanté;
Mais de toi je n'implore, ange, que tes prières,
Ange plein de bonheur, de joie et de lumières!

Charles Baudelaire, Les fleurs du mal

Tradução: a pedido

Para ouvir:
http://www.bacdefrancais.net/reversi.php

domingo, 2 de janeiro de 2011

A Mão que a Seu Amigo Hesita em Dar-se



Perguntaste se eu amo o meu amigo?
como rompendo um demorado açude
na tua voz quis hausto que transmude
todo o cristal dos ímpetos consigo

Neste meu choro enevoado abrigo
pôs-me a palavra o peito em alaúde
que uma doce pergunta tua ajude
no sim furtivo que eu levei comigo

Mas a meu lábio lento em confessar-se
um mestre inda melhor o cunharia
A mão que a seu amigo hesita em dar-se

ele a tomou o que mais firme a guia
para que ao coração secreto amando
ao mundo todo em rimas o vá dando.

Walter Benjamin, in "Sonetos"
Tradução de Vasco Graça Moura