quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Ignorância destrutiva do anarco-nulo



Curto e bem grosso. É espantosa a infantilidade de certas correntes que tentam, a todo custo, mesclar camadas e alinhar fulanos e sicranos no espectro político.

Falta conhecimento histórico. Falta maturidade. Falta, sobretudo, o desenvolvimento de um sentimento solidário com a cidade.

Meninos bem nascidos, que nunca trabalharam, hoje posam de anarcoiconoclastas. Consideram chique e elegante o voto nulo e o repúdio blasé a qualquer agremiação de cunho político-partidário.

O que mais choca é que neófitos que mal leram Bakunin e Malatesta ergam justificativas fora de tempo e lugar.

Muita molecaiada de calças curtas, evidentemente, não precisa de voto nenhum. Paparicadinhos pelos pais, viverão bem e luxuosamente mesmo se direita retrógrada e não-liberal consolidar seu poder na cidade.

Nessa lassidão antipática, fazem a vontade de Médici, pregam o desengajamento, o escarro sobre o direito ao voto.

Ao contrário do que se acredita, esses estetas do individualismo enxergam muito bem. E sabem, na medida, quem pode universalizar direitos na cidade e quem pode restringi-los.

Você ainda do outro lado da telinha do computer, não seja cara de pau. Sabe ou não sabe?!

Gigi Damiani e Oreste Ristori, anarquistas de verdade, gente que militou há um século nesta urbe, saberiam de que lado cerrar fileiras.

Eles sabiam entender tempo e ambientes, avaliar contextos e apoiar estrategicamente as lutas populares.

Não é o que se imagina de gente motorizada que vai subir a Augusta a partir do lado sul da Avenida Paulista, acreditando que a política pode ser pretexto para uma rave de descolados.

De um lado temos a representação partidária das lutas democráticas e populares, com todos os seus defeitos e fragilidades, mas ainda assim, a duras penas, universalizando direitos, eliminando preconceitos, incluindo e patrocinando liberdades.

Gente tomou eletrochoque, sofreu sessões de afogamento e até morreu para que tivéssemos o direito a essa reforma social, acanhada mas valiosíssima.

De outro, temos o que há de mais atrasado na sociedade brasileira. Temos José Serra e o PSDB, o partido do egoísmo, do individualismo e da restrição de direitos.

Temos os pastores radicais moralistas, o bispo que não acredita em estupro, o coronel que mata pretos e pobres e que ameça de morte jornalistas que denunciam seus crimes.

Temos ali, bem ali, o retrocesso, a homofobia, o preconceito expresso, a fala de um homem que utiliza o baiano como sinônimo de bandido.

Temos essa gente ruim que proíbe o sopão dos pobres, que persegue artistas de rua e que luta para eliminar as centrais populares de reciclagem.

Quem não vê essa diferença não merece falar em "amor", "arte" e "liberdade". Quem não vê essa diferença frauda conceitos e, no fundo, está pouco se fudendo para o futuro da cidade.

Se a solução é apenas a negação, que se mudem esses para a Serra do Caparaó e definam suas vidas à volta da fogueira, ao som de um violão, à noite, numa comuna sem mediação de referentes monetários.

Perigas, não dar certo, porém. Lá não tem videogame, não tem Todynho e não dá para contar com a carona do papis no fim da noite.

Quer fazer "amor"? Meta e dê de verdade, com ternura, mas sem fricotes. Quer ser anarquista? Vá ler sobre a Greve de 1917 e não venha nos encher os pacovás com niilismo de terceira categoria.

Não existe amor alienado. Cresce, criatura!

via walter falceta Jr.
Texto crítico sobre o apartidarismo de: Existe Amor em SP