Se a nossa fosse uma era de Cultura não se deveria falar tanto da própria Cultura. Não achas também? Eu gostaria de saber se épocas que tiveram cultura chegaram a conhecer e a usar esse termo. A ingenuidade, a espontaneidade, o óbvio, parecem-me ser o principal critério da disposição de espírito à qual conferimos essa denominação. O que nos falta é justamente isso, a ingenuidade, e tal falta, se é que cabe presumi-la, protege-nos contra muitos tipos de pitoresca barbárie, perfeitamente compatíveis com a Cultura e até com uma cultura muito elevada. Quero dizer: o nosso nível é o da Civilização, certamente um estado bem louvável, mas indubitavelmente deveríamos tornar-nos muito mais bárbaros, para podermos ser cultos outra vez. Técnica e conforto? Ao pronunciar estas palavras, a gente fala de cultura, mas não a possui.
Thomas Mann, in 'Doutor Fausto'
terça-feira, 9 de agosto de 2011
O Excesso de Civilização Prejudica a Cultura
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