segunda-feira, 14 de abril de 2008

My Blueberry Nights









Por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes

  • "Um pouco de possível, senão eu sufoco..." Gilles Deleuze"

  • É preciso ter caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante. "Nietzsche"

  • Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."Nietzsche"

  • A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie, cegueira. Mas sem as desordens da afetividade e as irrupções do imaginário, e sem a loucura do impossível, não haveria élan , criação, invenção, amor, poesia". Edgar Morin


Um filme especialmente delicado está nos cinemas de São Paulo. Considerado pela “crítica” cínica da grande mídia como mais um filme água com açúcar, por preconceito ou azedume. O preconceito pode ser por dois motivos; o primeiro deles é que o filme foi produzido por Hollywood, entretanto penso que não é este o caso, pois esta mesma crítica elogia filmes “baratos” como Senhor dos Anéis, e outros filminhos do gênero. O segundo motivo do preconceito, que por ser um conceito preconcebido já um mal e o nome do Filme no Brasil; Um beijo Roubado – nome para lá de banal. Bom, para falarmos do filme trata-se de Blueberry Nights, para quem não sabe Blueberry tem nome em português: Mirtilo, uma fruta originária da América do Norte que é para lá de gostosa doce e azeda ao mesmo tempo.
Penso que na verdade a nossa “grande crítica” especializada dá pouca importância ao filme por ser provinciana, e insensível a temas atemporalmente importantes como o mistério do amor e do desamor. Na verdade as más críticas do filme desconhecem que o seu realizador, Wang Kar Wai, que é também seu roteirista, foi saudado na Europa como uma verdadeira revolução na linguagem cinematográfica. Utilizando-se de clichês propositalmente saturados, imagens desfocadas, e rotações "desreguladas" o diretor foca a câmera sobre gestos banais, temas prosaicos mas que, no entanto, são mais importa
ntes para vida dos homens comuns do que grandes guerras, assassinatos ou grandes revoluções. De fato, seus personagens são sempre gente comum que partilha conosco, seja em Hong Kong, Buenos Aires ou neste caso, Nova York, as dificuldades de tentar permanecer humano apesar das agruras da vida. E é disso que também trata o primeiro filme de Wang Kar Wai feito nos Estados Unidos. Outros filmes deles como Amor a Flor da Pele e Felizes Juntos partilham da mesma temática: parecem todos perguntar: como uma personagem o faz no filme, qual a razão do amor ou do desamor? E nisso o filme é brilhante, mesmo quando desfoca a imagem ou altera o ritmo das imagens dos personagens. Outro elemento igualmente marcante é que os roteiros de Wang Kar Wai são sempre magistralmente integrados com uma lindíssima trilha sonora. Assim como foi feito em Happy Together, feito na Argentina, em que o tango torna-se uma personagem importante; aqui a música norte americana, sobretudo vários tipos de blues, assume um papel de detaque neste novo filme.
O filme nos brinda com as delicadas atuações de Judd Law, e pasmem, Norah Jones. Vale a pena conferir, o filme é poético, delicado, o mais importante parece guardar valores em um mundo onde o cinismo, o desencanto e o utilitarismo acabam por tudo destruir. Por que não arriscar um misto de doce e ácido? Viver não é ser útil ou comprar, viver é experimentar.

PS: A Música é igualmente importante em todos os outros filmes, sobretudo Amor à Flor da Pele!

Um comentário:

Penelope Brito disse...

Vamos ver se valerá o "novo" título brasileiro ou se seria melhor o "blueberry"... :-) Fiquei interessadíssima em ver. Que boa crítica aos críticos!