P.59
“A plenitude das mudanças temporais, que se rememora, é integrada numa determinação de sentido (direção), que remete a um futuro para além do momento presente e faz aparecerem como transitórias as circunstâncias atuais da vida. As expressões lingüísticas utilizadas para caracterizar esse direcionamento temporal, uma vez desvencilhadas das aparências de circularidade (grifo meu), provêm da experiência da natureza e referem-se a processos de mudança regrados, por isso mesmo significativos. A mais conhecida dessas expressões é "desenvolvimento", entrementes promovida ao plano de uma categoria histórica altamente eficaz. Ainda mais eficaz culturalmente do que essa categoria é a de progresso, que constitui o exemplo mais marcante da linha de raciocínio dessa representação do processo temporal."
P.60
“Nas formas e nos topoi da constituição genética de sentido o saber histórico torna-se o meio de uma comunicação na qual o espectro da diversidade de seus sujeitos se expande qualitativamente, para além da submissão comum a sistemas de regras e princípios e para além da distinção crítica e contraposição entre eles. Os sujeitos que se comunicam podem perceber em si e nos outros, por intermédio da historiografia genética, as qualidades da alteridade, os modos do ser outro e utilizar essa percepção como chance de consolidação da identidade pelo reconhecimento.”
“Com outras palavras: o discurso histórico, pela memória histórica, abre aos sujeitos chances de individuação. Isso vale não somente para indivíduos isoladamente, mas também para grupos, sociedades, culturas inteiras. O sentido próprio, que cada sujeito tende a fazer valer em sua interação com os outros e que possibilita o surgimento do processo ou fenômeno da comunicação, reflete-se no sentido próprio dos demais e enriquece sua qualidade pelo mecanismo do reconhecimento mútuo. Isso não significa o desaparecimento da concorrência pelo predomínio de pretensões sociais de validade, que se manifesta na realidade cultural como comunicação. Ela apenas toma novas formas, adota novas estratégias.”
RÜSEN, Jörn. Tipologia da Historiografia in _____. História Viva: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: UNB, 2007, p. 55-67