sexta-feira, 27 de junho de 2008



"Pessoas normais acham difícil serem más. Pessoas normais, quando sentem a maldade se acender dentro delas, bebem, falam palavrões, cometem violência. A maldade é como uma febre para elas: querem arrancá-la do corpo, querem voltar a ser normais. Mas os artistas têm de viver com sua febre, seja qual for a natureza dela, boa ou má. A febre é que os faz artistas, a febre tem de ser mantida viva. Por isso é que os artistas nunca podem estar inteiramente presentes no mundo: um olho tem de estar sempre voltado para dentro. Quanto às mulheres que se juntam em torno de artistas, elas não merecem plena confiança. Pois, assim como o espírito do artista é ao mesmo tempo chama e febre, também a mulher que quer ser lambida por línguas de fogo fará ao mesmo tempo todo o possível para estancar a febre e puxar o artista para o chão comum. Portanto, é preciso resistir às mulheres, mesmo quando amadas. Não se pode permitir que cheguem tão perto da chama a ponto de esfriá-la."


Juventude, de J.M. Coetzee

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