domingo, 11 de maio de 2008

Sociedade.Monstro.com.br


A sociedade-monstro brasileira, e seus arautos tecnocratas, utilitaristas, matam todos os dias. Porém, é por demasia triste quando se percebe que sua capacidade de e assassinar vai muito além do ato em si. A monstruosidade de casos de homicídio, como é o caso Isabela, não está apenas no ato daqueles que deveriam ser fonte máxima de amor e proteção, mas também no fato que a criança permaneceu o longo dos seus agonizantes minutos totalmente desamparada em seus momentos finais completamente só, isso em nome da burocrática norma que “não se pode tocar na cena do crime”. Esta justificativa dada é em si uma monstruosidade, fria e racionalista. O mais triste é que a sociedade brasileira, governada em sua elite por uma concepção de conhecimento caduca, que crê que o conhecimento tudo domina e “doma”, ainda é em sua base constantemente lembrada de seus conteúdos sociais atávicos e primitivos, entre aqueles que não pensam, sobre as coisas e o mundo, mas apenas repetem fragmentos de informações e normas - ao meio de suas pulsões irracionais e anímicas pré-modernas. Pois assim, entre uma elite utilitarista, dotada de uma “razão iluminada” – redentora do mundo (calcada no judaísmo-cristianismo) – evolucionista e iluminocrática e uma manada conduzida por impulsos fetichistas de vender, comprar e servir – perdemos todos aqueles “espíritos dotados de gênios”, desprovidos de senso prático, mas capazes de mudar e mostrar um pouco esse incessante e tolo baile hipócrita de máscaras.
Quem não se encaixa neste jogo hipócrita, e não está em um dos lados: dos que são dominados por impulsos primitivo do “viver bem” a todo custo ou daqueles “tecno-sábios” recitadores de dogmas ilusionistas ou iluministas, devêm então se entregar ao que lhe resta, o esquecimento e o apagamento criativo, ou a morte. Casos de gênios de muitos talentos apagados por esta lógica mortuária da sociedade brasileira são variados – todos eles marcados pelo estigma da não adequação das normas disciplinadoras e normatizantes: Cazuza, Bispo do Rosário, Caio Fernando Abreu, Ana Cristina César, Cássia Eller, Clarice Lispector – todos devidamente enquadrados e sufocados, por uma lógica autoria e atomizadora. Empurrados para uma cotidiano de angustias e dor – pouco reconhecidos em vida, mas devidamente explorados no necrológico mercado do pós-mortem. A imprensa brasileira em todos estes casos comportou-se como juiz, polícia e padre – força ridícula e enquadrande, que vigia para depois grunir exigências de punição. Para todos aqueles que transgridem a lógica do pensamento utilitário e do ‘viver bem”
A sociedade brasileira perdeu recentemente um destes gênios, e este corpo diciplinador, dotado de uma força imperial avassaladora é responsável por sua morte: Yoñlu (Vinícius Gageiro Marques ) – pequena potência criativa, dotado de estranha e bela força artística foi empurrado como muitos outros sem nome para o suicídio. Mas sua pequena vingança foi fazê-lo demonstrando a falsidade desse jogo sujo daqueles que aceitam as regras, e internalizam a obrigação de “viver bem”. Sua breve vida (16 anos), que poderia ainda sobrepujar em muito mais o poder imperial e criar, chegou ao fim, de forma absolutamente assustadora – suicídio “on line”: Yoñlu e Vinícius morreram por asfixia por volta das 15h30 de uma quarta-feira de inverno, 26 de julho de 2006. O mundo lhe doía demais. As coisas lhe doíam demais, como se pode perceber ouvindo seu disco ou mesmo por sua frase: “Uma sociedade onde sequer uma lágrima é derramada já é a mais medíocre do que a mente pode conceber”.Ele estava falando de nossa sociedade – da mesma que deixou Isabela, por causa de uma norma, em seus últimos momentos de vida absolutamente só e possivelmente aterrorizada. “Nada pode redimir aqueles que morrem na dor”. Mas parece às vezes impossível que um pequeno gênio – fluente em francês e inglês que dominava um enorme repertório musical e lingüístico possa ter feito, criado e composto as musicas que fez, até mesmo em parceria com o DJ escocês Sobrepulse. Mas sua potência criadora era tanta que nem mesmo a microfisica avassaladora do poder imperial pôde impedir-lhe de vingar-se do mundo. Seu suicídio foi uma derrota para todos nós. Ele quis fazer de sua vida e de sua morte uma obra de arte, e o fez.

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