terça-feira, 31 de agosto de 2010

Camomila



Augusto Patrini


Calou-se, no espaço branco entre as pernas do outro. Cansou-se, levantou e respirou fundo, como quem emerge do fundo de um rio. Achou graça naquilo tudo. Como podia, ser eles dois dentro do quarto. Eram amigos e simples. Podiam. Mas havia mais que isso entre as suas vidas. Seus corpos agora eram nítidos espelhos conhecidos, sem segredos e tão lindos. Um cheiro de camomila no campo.

Olhou-o. Com as pálpebras semicerradas era lindo, como menino na praça em dia de sol tomando sorvete de morango. Aquela felicidade corajosa e serena dos meninos da roça. conheciam agora, por fim, seus sexos tesos e suas lágrimas brancas e seus corpos enferrujados de sol, e que. Esperavam. A coragem dos encaracolados que era de ambos.

Vodca e Mao Tsé Tung tinham feito aquilo? Sabia que não, não era vodca nem qualquer momento maoísta dos seus botecos e esquinas, eram suas carnes todas, chamando-se tesas e quentes. Ali ao lado seu. A luz do inverno penetrando a janela, por entre as cortinas de azuis-escuros e desbotados, parecia aquela do hospício que lhe trazia ainda o medo, e lhe trazia de volta o escuro vivo e ríspidotinha tempo: esqueceu. Não lembrarei mais, pensou – agora eram os dois ali, ao seu lado o outro. Longo e marrom o corpo e alma daquele que tinha e era mais do que suas noites de expiaçãopor que esqueceria, para sempre, o filho da puta daquele que um dia o meteu no hospício. Amou demais o menino da escola. Os beijos dos dois adolescentes entre os pinheiros foram desenganados pela fúria daquele deserto que um dia chamara de pai, enchendo-lhe a cabeça de drogas e choques. Não queria mais saber se amar aquele garoto era errado, em seu tempo tinha que fazer o que sua alma pedia e tinha feito: vivido. Mesmo se depois lhe fosse o resto da adolescência de choques e drogas fundindo-lhe a cuca.

Mas agora. Abraçou-o, sentindo o cheiro do amigo que se tornara agora seu mantimento, muito longe dos choques e dos tetos assustadores do hospital imundo. Dormia, depois do gozo, puro e lento - sua boca ainda sentia o gosto. O quarto todo transpirava aquela penumbra estranha e roxa – de poeira e odor. O silêncio ali dentro, era alheio para a cidade tão grande: onde estavam os carros e os ônibus, fora, o mundo tinha todo parado. Dormiria agora, para não lembrar do inferno dentro daqueles corredores imundos e pretos, no fundo da sua história sórdida – o tempo tinha passado e tudo agora era diferente.

Naquela cidade anônima e longa, todos, pelas ruas, podiam se amar em paz, longe do interior rubro cheio fogo – correu e livrou-se daquilo – pois nunca sairia – o coronel nunca o tiraria dali, por que ele era umviado” sujo, um maricas, uma vergonha para a dinastia cristã e déspota-latifundiária daquela família cheia de mãos sujas de sangue. Mudara de nome, de vida e de tudo, inventara um passado e uma história para si, não era mais aquele. Aquele morrera gemendo amarrado no escuro frio e vivo da casa de loucos. Junto daquele, Cristo apodreceu de pênis em riste e Maria virou uma puta na rua da esquina. Deus estava finalmente morto e ele estava livre. E com seu corpo podre e santo, fez uma nova vida.

Como era bom, tocar. A pele morena daquele amigo ali, e podia quase esquecer que não era quem se fazia. Aquele moço seu amigo, ajudara-o mais e mais, tirava com ele o dos livros e liam juntos os contos de Clarice. Começaram amigos no boteco da esquina, copo de cerveja na mão e um cigarro na do outroalguém do outro lado da cidade se masturbava sozinho – e um papo sobre Mao e a revolução chinesa. Depois vieram os copos de vodca bebidos em seus apartamentos cheios de fantasmas e era sempre algum poema de Baudelaire e muita Billy Holiday na vitrola antiga. Tinham os dois, apenas 20 e tantos anos – esqueciam da vida, podiam perder, mas não fazia mal. Pois tinham sido eles, os dois juntos, o que queriam.

Suaoportunidade” foi sua tia, que ovelha negra renegada e sempre a “louca”, ela ajudou matar a sua fome e o seu passado. Quando chegou era ela, que de longe, ajudou, com o pouco que tinha, para ele não morrer de fome e a continuar sobrevivendo – ele fez alguns programas quando apertou, fodendo alguns velhos lamacentos e cinzas como seu pai, aquele covarde. E depois e depois e depois. O que podia fazer, esqueceu. Mergulhou no seu outro eu, por dentre os escombros e a carne podre de Deus, surgiu então, trabalhando nas paradas da vida - fazendo o que podia. Cresceu.

Agora, naquele bar, naquele dia, onde o sol se punha cinza, encontrou mais do que podia crer – de cerveja na mão foi encontrando aquele amor amigo que depois seria mais que amigo – seria fundo, triste e maravilhosamente medonho, para fazer esquecer tudo, para construir enfim em um momento de gloria seu outro euinfinito amortecido. Viveria, sim viveria. Reviveria. Mesmo que tudo aquilo viesse da dor que sentia.

O outro abriu os olhos, trazendo-o salvador de volta para vida. Beijou-lhe a boca de leve e esticou os músculos, abraçando-lhe o corpo. Era de novo aquele cheiro, de camomila no campo e de pinheiro verde misturando o que era e o que tinha sido. Acariciou-lhe a nuca. Dormiu.

Eleições 2010: ABGLT divulga lista parcial de candidatos que assinaram compromisso com as causas dos homossexuais


A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) divulgou nesta quinta-feira, 12, a lista parcial de candidatos que assinaram o termo de compromisso que tem como lema "Voto contra a Homofobia, Defendo a Cidadania" . Essa campanha visa identificar candidatos (as) que assumem abertamente o compromisso com a promoção da cidadania de pessoas LGBT, e que poderão fazer a diferença para estes segmentos da população no Legislativo e no Executivo no período de 2011 a 2014. A lista atualizada em 17 agosto de 2010 conta com 56 assinaturas.

Dos candidatos ao posto de presidente, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL-SP) foi o único a assinar. Para o Senado a conhecida e atuante senadora Fátima Cleide da Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT assinou o compromisso e concorre à reeleição e também o ex-governador do Paraná Roberto Requião (PMDB-PR), que possui um histórico de comentários infames contra os LGBT também assinou o compromisso.

Já ao posto dos governos estaduais, os candidatos Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), José Maranhão (PMDB-PB) e Paulo Búfalo (PSOL-SP) assinaram o termo de compromisso. Quanto aos deputados federais, este número é de 27, e 23 de candidatos a deputados estaduais.

De todos que assinaram, 7 candidatos são assumidamente gays, 1 candidata travesti e 42 candidatos(as) aliados(as) da causa LGBT. Nenhuma lésbica assinou até agora. Uma das reivindicações do termo de compromisso da ABGLT é em defesa do Estado laico, no qual não há nenhuma religião oficial, as manifestações religiosas são respeitadas, mas não devem interferir nas decisões governamentais.

Projetos de lei – No Legislativo, a campanha pede o compromisso com a apresentação e aprovação de projetos de lei que promovam os direitos das pessoas LGBT, com ênfase no combate à discriminação, o reconhecimento legal das uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, e o uso do nome social de travestis e transexuais. Já no Executivo, a ABGLT quer que os políticos se comprometam com a implementação das decisões da 1ª Conferência Nacional LGBT e das Conferências Estaduais LGBT (2008).

A lista inicial de candidatos(as) consta abaixo e também está disponível em www.abglt.org.br , no menu direito, em eleições 2010, e se baseia em termos de compromisso e e-mails de adesão recebidos nas últimas duas semanas.

Os Termos de Compromisso para candidatos(as) que querem firmar seu compromisso com a população LGBT estão disponíveis em http://www.abglt.org.br/port/eleicoes2010_downloads.php

No Legislativo, a campanha pede principalmente o compromisso com a apresentação e aprovação de projetos de lei que promovam os direitos das pessoas LGBT, com ênfase no combate à discriminação, o reconhecimento legal das uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, e o uso do nome social de travestis e transexuais (o nome pelo qual escolhem ser chamadas, que condiz com sua identidade de gênero, muitas vezes diferente do nome de registro civil).

No Executivo, destaca-se o compromisso com a implementação das decisões da 1ª Conferência Nacional LGBT e das Conferências Estaduais LGBT (2008). Nos estados, a ênfase está na criação de coordenadorias de políticas para LGBT como parte da estrutura dos governos, a elaboração e implementação de planos estaduais de promoção da cidadania e direitos humanos de LGBT, baseados nas resoluções das conferências estaduais LGBT, e a criação de conselhos estaduais de promoção da cidadania e direitos humanos de LGBT, como uma instância de controle social.

Também é uma reivindicação da ABGLT E SUAS AFILIADAS a defesa do Estado Laico, sendo o Estado em que não há nenhuma religião oficial, as manifestações religiosas são respeitadas, mas não devem interferir nas decisões governamentais.

Solicitamos que eventuais correções e acréscimos sejam enviados para os e-mails presidencia@abglt.org.br e vdwrm@hotmail.com

A lista será atualizada toda quinta-feira.

*Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT

Informações adicionais:

Toni Reis – Presidente da ABGLT – 41 9602 8906 presidencia@abglt.org.br

Carlos Magno – Secretário de Comunicação da ABGLT – 31 8817 1170 karlmagno@gmail.com

Victor De Wolf, responsável pela sistematização dos dados: 21 9121 2274
vdwrm@hotmail.com

Veja a lista dos candidatos que assinaram:

Candidatos(as) nas eleições de 2010

Presidência da República
Plínio Arruda Sampaio PSOL 50

Senado
UF - Nome - Partido - Nº - Contato
BA Lidice da Mata PSB 400
BA Luiz Carlos França PSOL 500

PR Roberto Requião PMDB 151
RO Fátima Cleide PT 133

Câmara dos Deputados (Deputados Federais)
UF - Nome Partido - Nº LGBT/Aliado(a) - Contato
BA ED Brasil PPS 2323 Aliado
BA Nelson Pelegrino PT 1346 Aliado
CE Artur Bruno PT 1313 Aliado
www.arturbruno.com.br
CE Eudes Xavier PT 1312 Aliado
DF Erika Kokai PT 1331 Aliada
erika@erikakokay1331.com.br
GO Marina Sant’Anna PT 1314 Aliada marina@marinasantanna.com.br
MG Nilmário Miranda PT 1331 Aliado
MG Gabriel Guimarães PT 1311 Aliado
MG Osmar Rezende PV 4324 G http://osmarbhz.blogspot.com/
MG Sander Simaglio PV 4363 G
MT Serys Slhessarenko PT 1322 Aliada
PB Luiz Couto PT 1345 Aliado
PB Socorro Pimentel PT 1353 Aliada
PR Dr. Rosinha PT 1313 Aliado www.doutorrosinha1313.com.br
RJ Gabriela Leite PV 4301 Aliada gabrielaleite2010@gmail.com
RJ Jean Wyllys PSOL 5005 G
RJ Renato Cinco PSOL 5055 Aliado renatocinco5055@renatocinco.com.br
RJ Sérgio Camargo PV 4324 G
www.deputadosergiocamargo.com
RJ Vladimir Palmeira PT 1351 Aliado
RS Manuela d’Ávila PC do B 6565 Aliada
RS Paulo Pimenta PT 1307 Aliado
RS Roberto Seitenfus PSOL 5070 G roberto.desobedeca@gmail.com
SC Leonel Camasão PSOL 5050 B http://blogdocamasao.blogspot.com
SE Iran Barbosa PT 1390 Aliado dep.iranbarbosa@camara.gov.br
SP Helton Bastos PSOL 5070
Heltonbastos50@gmail.com
SP José genoino PT 1313 Aliado
SP Iara Bernardi PT 1310 Aliada www.iarabernardi1310.com.br
SP Ivan Valente PSOL 5050 Aliado
SP Mara Gabrilli PSDB 4517 Aliada www.maragabrilli.com.br
SP Mateus Novaes PSOL 5095 Aliado www.mateusnovaes.com
SP Maurício Costa PSOL 5013 Aliado
SP Paulo Teixeira PT 1398 Aliado
SP Renato Simões PT 1366 Aliado ptrenatosimoes@terra.com.br
SP Sargento Fernando Alcântara PSB 4010 G www.sargentofernando.com.br
SP Saulo Rodrigues PSOL 5060 Aliado
Saulo5060@gmail.com

Governador
UF - Nome - Partido - Nº - Contato
BA Geddel Vieira Lima PMDB 15 www.geddel15.com.br
BA Marcos Mendes, Marcão PSOL 50
PB José Maranhão PMDB 15
SP Paulo Búfalo PSOL 50

Assembléias Legislativas (Deputados Estaduais)
UF - Nome - Partido - Nº LGBT/Aliado(a) - Contato

AM Dhyedo Limma PC do B 65888 G
AM Samara Soares PCdoB 65024 L
BA Almir Melo PMDB 15555 Aliado
BA Angelo Almeida PT 13000 Aliado
BA Lula Maciel PT 13800 Aliado www.lulamaciel.com.br
BA Marcelino Galo PT 13140 Aliado
BA Maria Del Carmen PT 13131 Aliada
BA Vânia Galvão PT 13133 Aliada www.vaniagalvao.com.br
CE Antonio Carlos PT 13121 Aliado
CE Nirvana Aquino PSOL 50550 L
nirvanaquino@gmail.com

DF Alex Alves PDT 12789 Aliado contato@blogdoalexalves.com.br
DF Julio Cárdia PV 43024 G juliocardia@gmail.com
DF Michel Platini PT 13021 G www.michelplatini.com.br
GO Marta Cezaria de Oliveira PT 13180 Aliada
martacezaria13180@gmail.com
MG João da Locadora PT 13040 Aliado
MG Labenert Mendes PT 13107 Aliado
MG Luzia Ferreira PPS 26400 Aliado
MG Marcos Rúbio PC do B 65444 Aliado
MG Sebastião Pimenta PTC 36650 Aliado
MT Julio Viana PT 13531 Aliado
http://juliovianamt.blogspot.com
MT Kiko (Odorico Ferreira Cardoso Neto) PT 13613 Aliado kikoptbg@gmail.com
PB Fernanda Benvenutty PT 13222 T
PB Socorro Brito PT 13135 Aliada
PR Fábio Camargo PTB 14014 Aliado
PR Professor Lemos PT 13013 Aliado www.professorlemos.com.br
PR Tadeu Veneri PT 13131 Aliado
RJ André Barros PT 13351 Aliado
RJ Carlos Minc PT 13001 Aliado
www.minc.com.br
RJ Cida Diogo PT 13313 Aliada
RJ Danielly Sena PTB 14999 Aliada daniellysena@hotmail.com
RJ Leonardo Giordano PT 13130 Aliado www.leonardogiordano.com.br
RJ Rubens Andrade PSB 40603 Aliado Rubensandrade40603@rubensandrade.com.br
RS Mauricio Piccin PT 13913 Aliado
RS Raquel Wünsch PT 13920 Aliada
SC Angela Albino PC do B 65123 Aliada
dani65123@hotmail.com
SC Willian Conceição PSOL 50050 Aliado www.lutapopular.com.br

SE Stoessel Chagas Nunes PSTU 16016
G
SP Breno Cortela PT 13613 Aliado
www.brenocortella.com.br
SP Carlos Giannazi PSOL 50789 Aliado
SP Eduardo Amaral PSOL 50740 Aliado http://psolsp.org.br/eduardoamaral/
SP Fabio D'Urso PT 13089 Aliado
SP
Irene dos Santos PT 13654 Aliado www.irene13654.com.br
SP Salete Campari PT 13124 T
SP Ibraim PMDB 15100 Aliado
TO Tereza Ibiapina PDT 12000 Aliada


Fontes: http://www.abglt.org.br/
http://www.mundomais.com.br/exibemateria2.php?idmateria=1598

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Manifesto pede reconhecimento do casamento gay e criminalização do preconceito


Fonte: Última Instância

PARA CANDIDATOS POLÍTICOS


Da Redação - 27/08/2010 - 16h01

Militantes envolvidos com a defesa dos direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) assinaram uma carta aberta pela legalização da união entre pessoas do mesmo sexo. O manifesto em defesa do “casamento igualitário” é direcionado aos candidatos às eleições e se inspira no direito à igualdade civil. O texto defende que a aprovação do casamento gay garantiria “igualdade legal entre cidadãos com orientações sexuais diferentes da heteronormativa”.

De acordo com Augusto Patrini, um dos envolvidos na produção do manifesto, os autores são pessoas que se conheceram pelo Twitter e vivem em grandes capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Segundo ele, o texto foi escrito de forma conjunta por cerca de dez pessoas. “A nossa idéia é tentar inserir esse debate nas eleições, já que nessa época não é costume discutir essas questões, principalmente devido ao preconceito ou ao medo do preconceito”, afirmou. A atitude foi inspirada com o que foi feito na Argentina, que recentemente legalizou a união entre pessoas do mesmo sexo.

Os grupos que assinam a carta citam os artigos 1º e 5º da Constituição Federal, que estabelece como um dos princípios fundamentais da Carta, respectivamente, a cidadania e a dignidade da pessoa humana; e garante a igualdade dos brasileiros perante a lei. Além da Carta Magna, o texto lembra da laicidade do Estado brasileiro. Segundo as associações, “os conservadores devem aceitar que o Brasil é uma república laica desde 1889, ou seja, há mais de cem anos”.

Segundo o manifesto, é “urgente” a necessidade de aprovação do projeto de lei complementar 122, que criminaliza a discriminação por orientação sexual. Além disso, a carta é contra a proposta de um plebiscito sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo. “Pensamos que a proposta, mesmo travestida de ‘democrática’, é cruel, humilhante e degradante com a população LGBT.”

Evento

No dia 19 de setembro, as organizações ainda prometem um “beijaço” na esquina da avenida Paulista com a rua Augusta. Segundo eles, esse é um ato público, organizado por usuários do Twitter “que usam o ciberativismo como ferramenta de mudança social”. De acordo com o site Casamento Igualitário, a manifestação faz parte da mobilização por direitos civis da comunidade LGBT.

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Aborto, casamento gay e intolerância religiosa: convenientemente ausentes nos discursos dos presidenciáveis



Fonte: Estadão Introdução: Eli Vieira

que_tedioUma deu sinais de agnosticismo, se “equilibrando na questão”, mas agora é toda acenos para os cristãos e deixa seu partido insinuar que ser chamado de ateu é crime contra a honra. A CNBB, que reúne os bispos católicos do Brasil, primeiro pediu às suas ovelhas para não votar nela, depois retirou a mensagem do sítio eletrônico e agora chama os candidatos para debater na lamentável rede de canais de televisão religiosos que contam com a concessão pública.

Outra faz parte de uma denominação fundamentalista que nega a ciência, mas amacia o discurso enquanto tenta desviar a atenção de sua crença de que toda a biodiversidade que ela tenta preservar surgiu num passe de mágica.

O outro, cujo partido injetou mais de meio milhão de dinheiro público num evento evangélico, fazendo a laicidade da Constituição parecer “coicidade da latituição”, conseguiu arranjar um candidato a vice-presidente que pensa que chamar alguém de ateu é xingamento.

Porém, apesar de toda a disputa, os três candidatos mais conhecidos à presidência do Brasil têm em comum uma coisa: preferem fingir que o Brasil é a terra dos ursinhos carinhosos, em que cirurgia devarizes é problema mais urgente que o aborto, em que proteger ou não os deficientes é ponto mais polêmico que o casamento gay, em que fazer propaganda de origem humilde é mais apelativo que mostrar o que vão fazer de concreto para promover a cidadania informada no país. Difícil escolher presidente num baile de máscaras assim.

Política no Brasil nos dá tédio. E a razão para isso tem muito a ver com nosso laicismo de letra morta, de acordo com a entrevista abaixo com um especialista em psicologia política, Marco Aurélio Prado.

Aliança com o nada

Para professor da UFMG, neutralismo é palavra de ordem para candidatos e sinal de pobreza do debate eleitoral

A menos de dois meses das eleições presidenciais, há uma fração interditada da agenda política. Os principais candidatos a presidente não se aprofundam em temas transversais que mexam com a sociedade. Aborto, drogas, união civil entre homossexuais, reforma agrária, eutanásia, entre outros, foram escanteados do debate. “A política é uma esfera de pensamentos da diferença, um lugar de estratégia e de conflito. A gente não vê isso hoje no Brasil. Ainda vivemos a fase da neutralidade geral”, diz Marco Aurélio Prado, doutor em psicologia social pela PUC-SP, membro do Núcleo de Psicologia Política da UFMG e atual presidente da Associação Brasileira de Psicologia Política. “É um momento no mínimo curioso, se não perigoso.”

Dois fatores contribuiriam para tanto: a forte influência da religião na política e as alianças que sustentam os candidatos. Notório é que o primeiro passo foi dado justamente por um ramo da Igreja Católica. Nessa semana, a CNBB, Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, anunciou a convocação de um debate, com transmissão em rede nacional nas TVs católicas, para cobrar dos presidenciáveis posições claras sobre assuntos tabus, como aborto, reforma agrária e taxação de grandes fortunas. Prado acredita que o caldeirão vá esquentar. “A sociedade é pluralista, seria muito bom que a política expressasse isso.”

Por que temas tabus são empurrados para baixo do tapete durante o debate eleitoral?

Há uma tentativa de formar opinião pública e, para isso, os candidatos ensejam uma posição neutra. O debate eleitoral no Brasil é pobre. Em outros países encontramos posições mais definidas. O comportamento chama a atenção porque esses são temas ligados a outro elemento contemporâneo do Brasil: a presença das religiões na esfera da política. Elas têm representantes na Câmara dos Deputados e no Senado a ponto de já fazer parte do nosso imaginário falar que existe bancada evangélica, bancada religiosa, bancada católica. Os candidatos evitam marcar posição para não perder o apoio da opinião pública. Mas não evitam visitar as igrejas ou fazer acordos com pastores e padres.

O que teria motivado a CNBB a sugerir um debate com os presidenciáveis que inclui assuntos polêmicos?

A Igreja Católica é muito capilar e muito contraditória internamente. Tem várias tendências, desde as católicas que defendem o direito de a mulher interromper a gravidez até o discurso do papa, sem dúvida conservador. Ela possui uma forma de lidar com essas temáticas que revela um pouco por que consegue tanto peso na opinião pública. Nos últimos anos, a gente avançou numa certa democratização. Mas ao mesmo tempo as religiões viraram instrumento forte de compreensão da própria política e a política virou instrumento forte da religião. Isso é uma contradição e um fenômeno importante. Acredito que temas sobre direitos vão aparecer no debate à medida que o eleitorado tiver mais cara e as pesquisas indicarem o rumo das coisas. O debate vai esquentar. O problema é como serão as respostas dos candidatos (risos).

A falta de debate em relação a esses temas empobrece o processo eleitoral?

Com certeza. Mas a eleição tem sido assim, com pouquíssimos instrumentos de conscientização política. Sendo o voto uma forma de expressão de direito de cidadão, é curioso que o processo eleitoral esteja tão despolitizado. Veja a forma de construção das alianças. A candidata do governo, por exemplo, é de um partido que fez coligações que vão fortalecer o PMDB em muitos Estados. Conforme essas alianças vão sendo feitas por interesses que não passam por um projeto político, a eleição tende a ser menos esclarecedora para a população. Aí é óbvio que os discursos não dizem nada. No debate da Band foi essa a postura dos candidatos. Apenas quem tem poucas chances, como o Plínio de Arruda Sampaio, pode falar de todos os temas. A sociedade é pluralista. Seria muito bom que a política expressasse isso.

O que constitui, de fato, um debate democrático?

O ideal do debate político é que antagonismos possam aparecer. A política é uma esfera de pensamentos da diferença. É um lugar de estratégia e de conflito. A gente não vê isso hoje no Brasil. Vozes dissonantes aparecem pouco. Repare no caso da união entre homossexuais. Quem está antagonizando são os religiosos no Congresso e uma parte da sociedade civil ligada aos movimentos sociais. E esse é um tema de muita relevância porque mostra como uma nação é capaz de olhar para transformações da sua própria sociedade. O governo tem feito de maneira discreta algumas ações pró-reconhecimento, como a autorização para declarar parceiro no Imposto de Renda, mas é meio envergonhado. Isso não se transforma em debate público, não são projetos que passaram por discussão no Congresso. A eleição vira esse neutralismo, esse grande acordo de relações partidárias. E a gente não sabe como essas rodadas de negociações aconteceram.

Que outros temas são escanteados?

O mais escamoteado é o das alianças. Se houvesse um espaço mais democrático, poderíamos discutir o que isso significa para o futuro. O mundo da política institucional não pode ter partidos fracos. É preciso ter partidos fortes com discursos políticos bem sustentados. Estamos vivendo um momento no mínimo curioso, se não perigoso.

De que maneira o senhor acredita que esses temas vão começar a ser discutidos pelos candidatos?

Não haverá muita discussão, principalmente pelos dois candidatos que estão na frente nas pesquisas. Basta pensar o que eles representam. De um lado, Dilma Rousseff espelha um acordo com partidos que não têm nenhuma posição favorável a esses temas, posição, aliás, que o PSDB também nunca teve.

A população percebe essa agenda tolhida? Por que o eleitor não reage?

Eu sou otimista. Há espaços que reagem. Neste ano todas as paradas LGBT têm como lema a questão do voto contra a homofobia. É uma reação, um recado. Quando todo mundo considerou que as paradas eram carnavais, elas mostraram articulação em torno de um tema: o projeto de lei, que não passa de jeito nenhum, sobre a criminalização de atos homofóbicos. No caso do aborto, é inadmissível que não se discuta em pleno século 21 o direito de as mulheres decidirem sobre o próprio corpo.

Em que momentos da nossa história política o debate lhe pareceu menos engessado?

Sobre essas questões específicas, nunca tivemos, em épocas de eleição, um debate acirrado. Mas, na pós-ditadura militar no Brasil as eleições foram mais politizadas. O debate Collor/Lula teve processo de conscientização política. As posições eram demarcadas, os partidos apresentaram projetos. Para o eleitor que conseguiu ler esses projetos não foi surpresa o que aconteceu no governo Collor. Naquele momento, o debate eleitoral instituiu um processo de reflexão sobre a política e sobre nossa vida como coletividade. É interessante pensar que estamos saindo de um governo do PT, um partido que tem história de politização de tantos temas, mas despolitizou a sociedade brasileira nos últimos anos.

O PT ajudou a despolitizar o debate?

Sim, mas é um fenômeno que não ocorre somente no Brasil. Em outros países, partidos de centro-esquerda ou esquerda, ao assumirem o governo, construíram certa despolitização das sociedades. Um elemento muito forte no País foi o tipo de relação que o governo estabeleceu com os movimentos sociais.

Foi uma relação de dominação?

Não. Foi uma relação de despolitização. Muitos movimentos sociais, que sempre tiveram lideranças importantes para a democratização, entraram para a máquina de governo. É verdade que o Estado precisa da experiência da sociedade civil para instituir políticas públicas, mas o problema é como isso mexe com a participação da sociedade. Há movimentos burocratizados pela lógica do Estado. Costumo brincar que, atualmente, se você formar um grupo para reivindicar algo, no dia seguinte vai ter um edital do governo propondo verbas e formas de funcionamento. A relação entre esses movimentos e o governo ficou engessada em editais. Ao mesmo tempo que há índices de melhora da situação brasileira, temos também uma sociedade menos participativa.

Outras culturas são mais abertas à discussão?

Sim. A Argentina viveu um debate importante sobre a união civil entre gays, que culminou com sua aprovação. A Espanha também. Portugal tomou decisões importantes no caso do aborto, das drogas e do reconhecimento da união entre homossexuais.

Quais seus prognósticos em relação ao Brasil?

Há a tendência de que essas temáticas avancem, mas vai depender de quem for eleito. A política é muita dinâmica. Isso é que é fascinante. Eu sou otimista, mas não é um otimismo redentor. Não imagino que a gente vá alcançar esse patamar fantástico rapidamente. Mas há práticas cotidianas que fazem toda a diferença.

O senhor já decidiu em quem votará?

Já. Não de modo confortável. É uma eleição difícil. Decidi, mas com medo de fazer parte do que vai ser o futuro dos partidos diante dessa situação de alianças tão pouco claras. Seremos cúmplices do que vier.