«Deixemos de lado o suicídio induzido pelocansaço, quecomoumúltimosacrifício coroam todosaquelesque se foram antes. É melhor uma últimarisada à Cravan, ou uma últimacanção à Ravachol.»
(Raoul Vaneigem, A Revolução da VidaCotidiana)
«Se tomo a palavranão é paramedefender dos atos de queme acusam, pois é somente a sociedade a responsável, queporcausa dasuaorganização põe os homensemlutacontínua uns contra os outros. De fato, não vemos hojeem todas as classes e em todas as profissõespessoasque desejam, não direi a morte, jáque soaria mal, massim a desgraça de seussemelhantes, se esta puder lhestrazeralgumbenefício. Porexemplo, umpatrãoquedesejaverdesaparecerumconcorrente? Todos os comerciantesgeralmentenão guerreiam uns contra os outroscom o objetivo de serem os únicos a desfrutarem dos benefíciosque resultam deste tipo de ocupação? O trabalhadorsemtrabalhonãodeseja, paraobterumtrabalho, queporummotivoqualquerqueumque esteja empregado seja despedido de suafunção? Poisbem, em uma sociedadeonde se produzem taisfatos, não devemos nossurpreendercom o tipo de atosqueagorame censuram, quenãosãomaisque a conseqüêncialógica da lutapelaexistênciaque têm os homensqueparaviver, sãoobrigados a recorrer a todotipo de meios. E jáquecadaumporsipróprio, se preocupa consigo, emsuas próprias necessidades se limita a pensar "Poisbem, jáque as coisassãoassim, eunão tenho porqueduvidar, quando tenho fome, emrecorrer a todos os meios ao meualcance, ainda e com o risco de provocarvítimas! Os patrõesquando despedem os trabalhadores, se preocupam se estesvãomorrer de fome? Todos os que têm benefícios se preocupam se existem pessoasquelhesfaltaatémesmo o necessário?"
Certamente existe algunsque ajudam, massãoincapazes de aliviar a todosaqueles necessitados e aos que morrerão antes de seutempoemconseqüência das privações de todotipo, ou voluntariamente pelossuicídios de todotipoparacolocarfim a uma existênciamiserável e nãoterquesuportar as agruras da fome, as vergonhas, as inúmeras humilhações e desesperossemfim. Nesta situação se encontra a família Hayem e a senhora Souhain que levou a morte a seusfilhosparanão os versofrerpormaistempo, e todas as mulheresquepormedo de nãopoderalimentar a umfilho, não hesitam emcomprometersuasaúde e suavida destruindo emseuseio o fruto de seusamores.
E todas essas coisas acontecem emmeio à abundância de todotipo de produtos. Compreenderíamos quetudoisto tivesse lugaremumpaísonde os produtossãoescassos, ondenão há alimentos. Mas na França, ondereina a abundância, onde os açougues transbordam de carne, as padarias de pão, onde a roupa, o calçado estão amontoado nas lojas, onde existem casas vazias! Comoadmitirquetudo está bem na sociedade, quando se vêtãoclaramente o contrário?
Haverá genteque se compadecerá de todas estas vítimas, masque dirão quenão podem fazernada. Quecadaum ajude como possa! Que pode fazer a quemfalta o necessáriomesmoenquantotrabalho, quando está desocupado? Nãomaisquedesejarmorrer de fome. Então se lançarão algumas palavras de piedadesobre o seucadáver. Isto é o que gostaria de ter deixado para os outros. Eu preferi mefazercontrabandista, falsificador, ladrão e assassino. Poderiater mendigado, mas é degradante e covarde, e até castigado pelas suasleisque transformam emdelito a miséria. Se todos os necessitados, emlugar de esperarem, tomassem de onde existe o que precisam, não importando de queforma, entenderiam talvezmaisdepressacomo é perigosodesejarmanter o estadosocialatual, onde a inquietação é permanente e a vida está ameaçada a cadainstante.
Acabaríamos, semdúvida, compreendendo mais rapidamente que os anarquistas têm razãoquando dizem queparaconseguirtranqüilidademoral e física, é necessáriodestruir as causasque geram os crimes e os criminosos: não é suprimindo àqueleque, ao invés de morrer de uma mortelentaemconseqüência das privaçõesque teve e terá quesuportar, semesperanças de vê-las acabar, prefere, se tem umpouco de energia, tomarviolentamenteaquiloquelhe pode assegurar o bemestar, aindaquesob o risco de suamorte, quenão é maisqueumfimparaseus sofrimentos.
E é aquique está o porque cometi os atosqueme reprovam e quenãosãomaisque a conseqüêncialógica do estadobárbaro de uma sociedadequenão faz maisqueaumentar o número de suasvítimaspelorigor de suasleisque se alçam contra os efeitossemjamaistocar nas causas; dizem que se tem quesercruelparamatar a umsemelhante, mas os que falam istonão vêem que decidimos fazê-lo tãosomentepara evitarmos a nossaprópriamorte.
Igualmente, vocês, senhores juízes, quesemdúvidavãomecondenar à pena de morte, porque acreditam que é uma necessidade e quemeudesaparecimento será uma satisfaçãoparavocêsque têm horroremvercorrer o sanguehumano, masquequando acreditam que será útil derramá-lo paragarantir a segurança da vossaexistência, não duvidarão mais do queeuem fazê-lo, com a diferençaquevocês o fazem semcorrernenhumrisco, enquantoqueeu agi colocando emrisco e perigominhaliberdade e minhavida.
Bem, senhores, existe maiscriminosos a serem julgados, mas as causas do crimenãosão destruídas. Criando os artigos do Código, os legisladores se esqueceram queelesnão atacam as causasmassomente os efeitos, e, efeitosquetodavia se desencadearão. Sempre existirão criminosos, aindaque destruam um, amanhã nascerão outrosdez.
O quefazerentão? Destruir a miséria, esta semente do crime, assegurando a cadaqual a satisfação de todas suasnecessidades! E quãodifícil é de realizar! Seria suficienteestabelecer a sociedadesobrenovasbasesondetudo seria de todos, e ondecadaum produzindo segundosuasaptidões e suasforças, poderiaconsumirsegundosuasnecessidades. Desta formanão veremos maisgentecomo o ermitão de Notredame-de-Grâce, mendigando pormoedas daqueles que se tornam escravos e vítimas! Não veremos maismulheres cedendo seuscorpos, como uma mercadoriavulgaremtroca destas mesmas moedasquenos impede freqüentemente de reconhecer se o afeto é realmentesincero. Não veremos maishomenscomo Pranzini, Prado, Berland, Anastay e outrosque, paraobteressemesmometal chegam a darmorte! Isto demonstra claramenteque a causa de todos os crimes é sempre a mesma e que é necessárioserrealmenteinsensatoparanão enxergá-la.
Repito, se é a sociedadequemcria os criminosos, e vocês, juízes, no lugar de golpeá-los, deveriam usarvossainteligência e vossas forçasparatransformar a sociedade. Comumgolpesó fariam desaparecertodos os crimes; e vossaobra, atacando as causas, seria maior e maisfecundaquevossajustiçaque se limita a castigarseusefeitos.
Não sou maisqueumtrabalhadorsemestudo, masportervivido a vida dos pobres, tenho maiscapacidadequeumburguêsricoparasentir a perversidade das suasleis repressivas. Onde foi que conseguiram o direito de matarouprenderumhomemque, colocado sobre a terracom a necessidade de viver, se viu na necessidade de tomaraquiloquelhe faltava para se alimentar?
Trabalhei paraviver e parasustentar a minhafamília; paraquenemeunemmeusparentes sofrêssemos demais. Mantive-me da formaquevocês chamam "honesto". Depois o trabalho faltou e semeleveio a fome. Sóentãoveio essa grandelei danatureza, essebradoimperiosoquenão admite ficarsemresposta, o instinto de preservaçãome levou a cometeralguns dos crimes e infrações dos quais sou acusado e que admito ser o autor.
Me julguem, senhores do júri, mas se vósme compreendestes, ao me julgarem julguem todos os desafortunadoscujapobreza combinada comorgulhonatural, transformou emcriminosos, e àquelescujariquezaou o benefício transformou emhomenshonestos.
Uma sociedadeinteligente teria feito deles homens, como quaisquer outros".[1] (Ravachol)
«Quem é - o autor de toda essa interminávelprocissão de torturasque tem sido a história da raçahumana - quem é responsávelporestesbanhos de sangue, semprecom a mesmacrueldade, semdescansonemmisericórdia? Governos, religiões, indústrias, campos de trabalhoforçado, todoseles estão encharcados de sangue.»
(Octave Mirbeau, Ravachol)
Ravachol, nascido François Claudius Koënigstein, maisconhecidocomo Ravachol, (Saint-Chamond, 14 de Outubro de 1859 — Montbrison, 11 de Julho de 1892) foi um dos maisfamososanarquistas ilegalistas franceses, tornando-se a seutempo o arquétipo do "anarquistalançador de bombas" através de suasações diretas violentas contra a corruptaTerceiraRepública Francesa[1]. Da perspectiva legalista e capitalista Ravachol entrou parahistóriacomoum dos grandesterroristas do século XIX.
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