sábado, 29 de novembro de 2008
James Graham Ballard
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Michel Foucault
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
estrela esquizofrênica
Ou Augusto Patrini
"Se tu nos espetas não sangramos? Se tu nos fazes cócegas não rimos? Se tu nos dás veneno não morremos? Se nos fazes mal, não devemos nos vingar?".
Shakespeare, O mercador de Veneza.
É era uma estrela multifacetada. Múltiplas vagas de ressentimento e dor, e aquele cheiro de erva doce e sémem. Esquecia-se sempre e nem sabia do que, mas que eram vários, sempre, intensos intuídos. Neozine, alprazolam, diazepan, rivotril, dormonid, pondera, certralina, valium, bromazepam, frisium, frontal, fluoxetina, paroxetina, prometax, buspirona, e claro, um pouco de algo e agorismo, por que achava que a propriedade privada não era necessariamente melhor ou pior que a coletiva, só não queria e nem gostava do Estado e das multinacionais, escolhendo-lhe, o que comer, o que fazer, com quem dormir ou pior como e por que e como viver e gozar. Contudo sabia, no fundo, trata-se de um poder difuso e sem centro, que fazia de nossa liberdade uma vigília. Não queria mais ser o que todos os anjos sem consciência são: “insetos espermáticos” e patéticos.
Pois bem que para ele bastava um ramo de flores rubras e sua intensidade louca escorrendo como um líquido espesso gosmentos e oleoso por entre as quadras das noites - sem estrelas mas com algum excremento fútil. Do cheiro não mais se lembrava, o que ficava sempre era aquele cheiro de erva-doce, de mel e de púrpura dor, e vícios e insanidades temporárias. Esses “Eus” já não eram unos, eram multifacetados, sofridos e blefavam, árduos e fortes nessa negritude funda e imunda da vida insignificante, cotidiana e tola dos insetos espermáticos. Bobos, sorrindo-se sempre e contradizendo-se múltiplos em várias formas de comportamento e sonho. É que sabia bem, uma cobra criada e venenosa podia ser fofa, terna e meiga. E como dizem “do bem” – expressão imbecil. Risos mornos e tenros, para depois partir, ferir e destroçar aquela carne toda branca e tenra. Tudo tem um fim, todos temos esse direito, nem que ao menos seja prometido, vislumbrado ou sugerido. Um final, uma finalidade, por que no fundo sabemos de nosso grande e majestoso finito, nossas inevitáveis sepulturas frias e toscas. Branco. Branco. Bom, mal, suspiros.
Cala-te.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Perdoando Deus
Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso "fosse mesmo" o que eu sentia - e não possivelmente um equívoco de sentimento - que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre. E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos. Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admiro e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado poderia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais. Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar - não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele - mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação. ... mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Zo d'Axa
« Nous allons — individuels, sans la Foi qui sauve et qui aveugle. Nos dégoûts de la Société n'engendrent pas en nous d'immuables convictions. Nous nous battons pour la joie des batailles et sans rêve d'avenir meilleur. Que nous importent les lendemains qui seront dans des siècles ! Que nous importent les petits neveux ! C'est en dehors de toutes les lois, de toutes les règles, de toutes les théories — même anarchistes — c'est dès l'instant, dès tout de suite, que nous voulons nous laisser aller à nos pitiés, à nos emportements, à nos douceurs, à nos rages, à nos instincts — avec l'orgueil d'être nous-même. » (« Nous », L'En dehors, 1891)
« Vivre pour l'heure présente, hors le mirage des sociétés futures ; vivre et palper cette existence dans le plaisir hautain de la bataille sociale. C'est plus qu'un état d'esprit : c'est une manière d'être - et tout de suite. » (L'En dehors, 1892)
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Foucault - a tradução por email !
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Oeuvres IV, La vie en Fleur (1922), Anatole France, éd. Gallimard, 1994, p. 1118
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
A História
- Arthur Schopenhauer
"Quando falamos de história, temos o costume de nos refugiar no passado. É nele que se pensa encontrar o seu começo e o seu fim. Na realidade, é o inverso: a história começa hoje e continua amanhã"
- "Exaltação e Orgulho", de D.N. Marinotis
"A História é um romance que foi. O romance é a história que poderia ter sido.
Edmond de Goncourt e Jules de Goncourt, Diário apud SQUARISI, Dad (10 de setembro de 2006). "Dicas de português - Demagogogos e busca-pés...". Correio Braziliense, Caderno C, p. 4
"Quem domina o passado domina o futuro: quem domina o presente domina o passado."
- Fonte: George Orwell; livro "1984"
"[Os historiadores] são os memorialistas profissionais do que seus colegas-cidadãos desejam esquecer".
- Eric Hobsbawm in Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 107. ISBN 85-7164-468-3
"Houve outrora um funcionário chamado 'Lembrete'. O título na verdade era um eufemismo para cobrador de dívidas. A tarefa oficial era lembrar às pessoas o que elas gostariam de ter esquecido. Uma das mais importantes funções do historiador é ser um lembrete. “
Peter Burke. Variedades de história cultural; tradução de Alda Porto. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p.89. ISBN 85-200-0517-9
"A história não é uma ciência, é uma arte. Nela só se logra êxito pela imaginação."
- Anatole France, O Jardim de Epicuro
"Escrever a história é um modo de livrar-se do passado."
- Johann Wolfgang von Goethe, Arte e Antiguidade"
domingo, 16 de novembro de 2008
Ива́н Серге́евич Турге́нев
“Todos os sentimentos podem conduzir ao amor e à paixão. Todos: o ódio, a compaixão, a indiferença, a veneração, a amizade, o medo e até mesmo o desprezo. Sim, todos os sentimentos... exceto um: a gratidão. A gratidão é uma dívida: todo o homem paga as suas dívidas... mas o amor não é dinheiro.”
Sem autenticidade, sem educação, sem liberdade no seu significado mais amplo - na relação consigo mesmo, com as próprias idéias pré-concebidas, até mesmo com o próprio povo e com a própria história - não se pode imaginar um artista verdadeiro; sem este ar não é possível respirar
Fonte: "A propósito de 'Pais e Filhos'"
“A arte de um povo é a sua alma viva, o seu pensamento, a sua língua no significado mais alto da palavra; quando atinge a sua expressão plena, torna-se patrimônio de toda a humanidade, quase mais do que a ciência, justamente porque a arte é a alma falante e pensante do homem, e a alma não morre, mas sobrevive à existência física do corpo e do povo “
Fonte: "Discurso para a inauguração, em Moscovo, do monumento a Pushkin"
"El tiempo vuela a veces como un pájaro, y a veces se arrastra como un caracol. Pero la mayor felicidad del hombre sobreviene cuando no se advierte si su paso es raudo o moroso."
sábado, 15 de novembro de 2008
Nietzsche em conta gotas
"Desde que me cansei de procurar,aprendi a encontrar; Desde que o vento começou a soprar-me na face, velejo com todos os ventos."
"Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".
"Há homens que já nascem póstumos."
"O Evangelho morreu na cruz."
"A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada."
"Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no “além” - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade."
"Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária."
"O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo."
"A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade."
"As convicções são cárceres."
"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."
"Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem."
"Aquilo que não me destrói fortalece-me"
"Sem música, a vida seria um erro."
"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
"A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo."
"O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno."
"Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder."
"Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos."
"Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar."
"Se minhas loucuras tivessem explicaçoes, não seriam loucuras."
"O Homem evolui dos macacos? é existem macacos!"
"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."
"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
"Torna-te quem tu és!"
"O padre está mentindo."
"Deus está morto mas o seu cadáver permanece insepulto"
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Breviario del caos, Albert Caraco
"El alma vulgar, sabiéndose vulgar, tiene el denuedo de afirmar el derecho a la vulgaridad y lo impone donde quiera".
José Ortega y Gasset, La rebelión de las masas (1930)
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
« Si un homme ne suit pas le rythme de ses compagnons, peut-être est-ce parce qu'il entend le son d'un autre tambour. »
“Se um homem não segue o ritmo dos seus companheiros, quiçá seja por que ele ouve o som de um outro tambor.”
Walden, de Henry David Thoreau
Tradução: Augusto Patrini
domingo, 9 de novembro de 2008
“A vida, sem a dignidade da inteligência, não vale a pena ser vivida.”[1]
(Louis Riel)
Tradução: Augusto Patrini
[1] Final Statement of Louis Riel at his trial in Regina, 1885. Louis Riel Trial Homepage. University of Missouri Kansas City School of Law. Página visitada em 24-09-2007.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Los Siete Locos
Los siete locos[1]
El discurso del astrólogo
[...El Astrólogo] Dijo:
Sí, llegará un momento en que la humanidad escéptica, enloquecida por los placeres, blasfema de impotencia, se pondrá tan furiosa que será necesario matarla como a un perro rabioso...
¿Qué es lo que dice?...
Será la poda del árbol humano... una vendimia que sólo ellos, los millonarios, con la ciencia a su servicio, podrán realizar. Los dioses, asqueados de la realidad, perdida toda ilusión en la ciencia como factor de felicidad, rodeados de esclavos tigres, provocarán cataclismos espantosos, distribuirán las pestes fulminantes... Durante algunos decenios el trabajo de los superhombres y de sus servidores se concretará a destruir al hombre de mil formas, hasta agotar el mundo casi... y sólo un resto, un pequeño resto, será aislado en algún islote, sobre el que se asentarán las bases de una nueva sociedad.
Barsut se había puesto en pie. Con el entrecejo fiero, y las manos metidas en los bolsillos del pantalón, se encogió de hombros, preguntando:
Pero, ¿es posible que usted crea en la realidad de esos disparates?
No, no son disparates, porque yo los cometería aunque fuera para divertirme.
Y continuó:
Desdichados hay que creerán en ellos... y eso es suficiente... Pero he aquí mi idea: esa sociedad se compondrá de dos castas, en las que habrá un intervalo... mejor dicho una diferencia intelectual de treinta siglos. La mayoría vivirá mantenida escrupulosamente en la más absoluta ignorancia, circundada de milagros apócrifos, y por lo tanto mucho más interesantes que los milagros históricos, y la minoría será la depositaria absoluta de la ciencia y del poder. De esa forma queda garantizada la felicidad de la mayoría, pues el hombre de esta casta tendrá relacion con un mundo divino, en el cual hoy no cree. La minoría administrará los placeres y los milagros para el rebaño, y la edad de oro, edad en la que los ángeles merodeaban por los caminos del crepúsculo y los dioses se dejaron ver en los claros de luna, será un hecho.
[...]
¿Y la idea?
Aquí llegamos... Mi idea es organizar una sociedad secreta, que no tan sólo propague mis ideas, si no que sea una escuela de futuros reyes de hombres. Ya sé que usted me dirá que han existido numerosas sociedades secretas... y eso es cierto... todas desaparecieron porque carecían de bases sólidas, es decir, que se apoyaban en un sentimiento o en una irrealidad política o religiosa, con exclusión de toda realidad inmediata. En cambio, nuestra sociedad se basará en un principio más sólido y moderno: el industrialismo, es decir, que la logia tendrá un elemento de fantasía, si así se quiere llamar a todo lo que le he dicho, y otro elemento positivo: la industria, que dará como consecuencia el oro.
El tono de su voz se hizo más bronco. Una ráfaga de ferocidad ponía cierta desviación de astigmatismo en su mirada. Movió la greñuda cabeza a diestra y siniestra, como si le punzara el cerebro la agudeza de una emoción extraordinaria, apoyó las manos en los riñones y renaudando el ir y venir, repitió:
¡Ah! el oro... el oro... ¿Sabe cómo lo llamaban los antiguos germanos al oro? El oro rojo... El oro... ¿Se da cuenta usted? No abra la boca, Satanás. Dése cuenta, jamás, jamás ninguna sociedad secreta trató de efectuar semejante amalgama. El dinero será la soldadura y el lastre que concederá a las idea el peso y la violencia necesarios para arrastrar a los hombres. Nos dirigiremos en especial a las juventudes, porque son más estúpidas y entusiastas. Les prometeremos el imperio del mundo y del amor... Les prometeremos todo... ¿me comprende usted?... Y les daremos uniformes vistosos, túnicas esplendentes... capacetes con plumajes de variados colores... pedrerías... grados de iniciación con nombres hermosos y jerarquías... Y allá en la montaña levantaremos el templo de cartón... Eso será para imprimir una cinta... No, cuando hayamos triunfado levantaremos el templo de las siete puertas de oro... Tendrá columnas de mármol rosado y los caminos para llegar a él estarán enarenados con granos de cobre. En torno construiremos jardines... y allá irá la humanidad a adorar el dios vivo que hemos inventado.
Pero el dinero para hacer todo eso... los millones...
A medida que el Astrólogo hablaba, el entusiasmo de éste se contagiaba a Erdosain. Se había olvidado de Barsut, aunque éste se encontraba frente a él. Sin poderlo evitar, evocaba una tierra de posible renovación. La humanidad viviría en perpetua fiesta de simplicidad, ramilletes de estroncio tachonarían la noche de cascadas de estrellas rojas, un ángel de alas verdosas soslayaría la cresta de una nube, y bajo las botánicas arcadas de los bosques se deslizarían hombres y mujeres, envueltos en túnicas blancas, y limpio el corazón de la inmundicia que a él lo apestaba. Cerró los ojos, y el semblante de Elsa se deslizó por su memoria, mas no despertó ningún eco, porque la voz del Astrólogo llenaba la cochera con esta réplica salvaje:
¿Así que le interesa de dónde sacaremos los millones? Es fácil. Organizaremos prostíbulos. El Rufián Melancólico será el Gran Patriarca Prostibulario... todos los miembros de la logia tendrán interés en las empresas... Explotaremos la usura... la mujer, el niño, el obrero, los campos y los locos. En la montaña... será en el Campo Chileno... colocaremos lavaderos de oro, la extracción de metales se efectuará por electricidad. Erdosain ya calculó una turbina de 500 caballos. Prepararemos el ácido nítrico reduciendo el nitrógeno de la atmósfera con el procedimiento del arco voltaico en torbellino y tendremos hierro, cobre y aluminio mediante las fuerzas hidroeléctricas. ¿Se da cuenta? Llevaremos engañados a los obreros, y a los que no quieran trabajar en las minas los mataremos a latigazos. ¿No sucede esto hoy en el Gran Chaco, en los yerbales y en las explotaciones de caucho, café y estaño? Cercaremos nuestras posesiones de cables electrizados y compraremos con una pera de agua a todos los polizontes y comisarios del Sur. El caso es empezar. Ya ha llegado el Buscador de Oro. Encontró placeres en el campo chileno, vagando con una prostituta llamada la Máscara. Hay que empezar. Para la comedia del dios elegiremos un adolescente... Mejor será criar un niño de excepcional belleza, y se le educará para hacer el papel de dios. Hablaremos... se hablará de él por todas partes, pero con misterio, y la imaginación de la gente multiplicará su prestigio. ¿Se imagina usted lo que dirán los papanatas de Buenos Aires cuando se propague la murmuración de que allá en las montañas del Chubut, en un templo inaccsesible de oro y de mármol, habita un dios adolescente... un fantástico efebo que hace milagros?
¡Sabe que sus disparates son interesantes!
¿Disparates? ¿No se creyó en la existencia del plesiosaurio que descubrió un inglés borracho, el único habitante del Neuquén a quien la policía no deja usar revólver por su espantosa puntería?... ¿No creyó la gente de Buenos Aires en los poderes sobrenaturales de un charlatán brasileño que se comprometía curar milagrosamente la parálisis de Orfilia Rico? Aquél sí que era un espectáculo grotesco y sin pizca de imaginación. E innumerables badulaques lloraban a moco tendido cuando el embrollón enarboló el brazo de la enferma, que todavía está tullido, lo cual prueba que los hombres de ésta y de todas las generaciones tienen absoluta necesidad de creer en algo. Con la ayuda de algún periódico, créame, haremos milagros. Hay varios diarios que rabian por venderse o explotar un asunto sensacional. Y nosotros les daremos a todos los sedientos de maravillas un dios magnífico, adornado de relatos que podemos copiar de la Biblia... Una idea se me ocurre: anunciaremos que el mocito es el Mesías pronosticado por los judíos... Hay que pensarlo... Sacaremos fotografías del dios de la selva... Podemos imprimir una cinta cinematográfica con el templo de cartón en el fondo del bosque, el dios conversando con el espíritu de la Tierra.
Pero usted, ¿es un cínico o un loco?
Erdosain lo miró malhumorado a Barsut. ¿Era posible que fuera tan imbécil e insensible a la belleza que adornaba los proyectos del Astrólogo? Y pensó: "Esta mala bestia le envidia su magnífica locura al otro. Ésa es la verdad. No quedará otro remedio que matarlo."
Las dos cosas, y elegiremos un término medio entre Krishnamurti y Rodolfo Valentino, pero más místico; una criatura que tenga un rostro extraño simbolizando el sufrimiento del mundo. ¿Se imagina usted la impresión que causará al populacho el espectáculo del dios pálido resucitando a un muerto, el de los lavaderos de oro con un arcángel como Gabriel custodiando las barcas de metal y prostitutas deliciosamente ataviadas dispuestas a ser las esposas del primer desdichado que llegue? Van a sobrar solicitudes para ir a explotar la ciudad del Rey del Mundo y a gozar de los placeres del amor libre... De entre esa ralea elegiremos los más incultos... y allá abajo les doblaremos bien el espinazo a palos, haciéndolos trabajar veinte horas en los lavaderos.
[...]
[1] http://cvc.cervantes.es/actcult/arlt/la_obra/madrid2.htm
Albert Caraco
Albert Caraco
Tradução: Augusto Patrini
« Mais à quoi bon prêcher ces milliards de somnambules, qui marchent au chaos d’un pas égal, sous la houlette de leurs séducteurs spirituels et sous le bâton de leurs maîtres ? Ils sont coupables parce qu’ils sont innombrables, les masses de perdition doivent mourir, pour qu’une restauration de l’homme soit possible. Mon prochain n’est pas un insecte aveugle et sourd, n’est pas un automate spermatique. Que nous importe le néant de ces esclaves ? Nul ne les sauve ni d’eux-mêmes, ni de l’évidence, tout se dispose à les précipiter dans les ténèbres, ils furent engendrés au hasard des accouplements, puis naquirent à l’égal des briques sortant de leur moule, et les voici formant des rangées parallèles et dont les tas s’élèvent jusqu’aux nues. Sont-ce des hommes ? Non, la masse de perdition ne se compose jamais d’hommes » (Bréviaire du chaos)
terça-feira, 4 de novembro de 2008
A História por Jean Baudrillard II
Tradução: Augusto Patrini
« Cela a toujours été pour moi, non une méthode, mais une forme d’anticipation : aller par anticipation au bout d'un processus, pour voir ce qui se passe au-delà. Je pense toujours que ce qui se passe, ou pourrait se passer au-delà, est en fait déjà là dans le processus même, et que la fin est déjà là, à partir du commencement. Tout se développe en même temps. Les commencements et les fins marchent en parallèle. Cela bouleverse évidemment un peu tout le champ des causes et des effets, on est passé un peu au-delà!... Cela dit, je ne vois aucun moyen, comme Canetti semblait le croire, de revenir au point où la distinction était possible entre le Bien et le Mal, le Vrai et le Faux, etc. Autrement dit, de revenir aux conditions d'un exercice rationnel et traditionnel de la pensée. Ma vision est sans doute plus catastrophique, mais pas au sens apocalyptique, plutôt d'une révolution ou d'une mutation des choses. Et cette mutation est due à une accélération : on essaie d'aller de plus en plus vite, si bien qu'en fait on est déjà arrivé à la fin. Virtuellement ! Mais on y est quand même. »[1]
“De fato, isto renviava para mim [a problemática da antologia, da história assombrada por sua disparição, etc] ao problema mais geral da realidade, entendendo-se que a realidade não é nada mais que um princípio. O “Princípio de realidade”, a realidade objetiva e o processo de reconhecimento que ela exige, desapareceram de alguma forma... Neste momento preciso, a realidade liberada de seu principio torna-se um desenvolvimento exponencial, integral. Tem-se então que construir uma realidade onde tudo é operacional, ou onde nada mais resta fora de seu campo. Se tudo se realiza ou se completa, é sobretudo, baseado no desaparecimento da “essência”, do “transcendente” ou do “princípio” da realidade. Esta base espectral nos leva, de uma certa forma, ao virtual, e a todos estes mundo onde reina a virtualidade”
Tradução: Augusto Patrini
« En fait, cela renvoyait pour moi [la problématique de la hantologie, de l'histoire hantée par sa disparition, etc.] au problème très général de la réalité, attendu que la réalité n'est rien d'autre qu'un principe. Le « Principe de réalité », la réalité objective et le processus de reconnaissance qu'elle appelle, disparaissent en quelque sorte… À ce moment précis, la réalité délivrée de son principe devient, dans un développement exponentiel, intégrale. On a alors à faire à une réalité où tout est opérationnalité, ou plus rien ne reste hors champ. Si tout se réalise ou s'accomplit, c'est d'abord sur la base de la disparition de l' « essence », de la « transcendance » ou du « principe » de la réalité. Cette base spectrale nous mène, d'une certaine façon, au virtuel, et à tous ces mondes où règne la virtualité. »[2]
“Estas historias assim são uma forma de “reparação”. Se eu quero analisar o terrorismo, eu não vou fazê-lo em função do discurso islâmico. É uma forma de exorcizar as coisas em vez de reenviá-las a uma religião, a uma ideologia, a uma convicção. Se eu observo o terrorismo, é o ato terrorista enquanto que fratura de uma potência mundial. Isto pode vir não importa de onde, e que existam convicções religiosas por trás não interessa. O ressurgimento dos discursos étnicos, religiosos, lingüísticos mostra que alguma coisa se convulsiona, se cristaliza contra a hegemonia, contra o “Império”, contra este pensamento único, esta potência única. Alguns o chamam de choque entre culturas, um choque de ideologias... Mas isto é insolúvel. Tomar partido contra ou a favor, não me interessa. Aquilo que eu procuro ver, é o antagonismo verdadeiro. Ora, o antagonismo se manifesta de um modo simbólico, é então toda uma outra coisa: trata-se de introduzir a morte em um sistema que procura exclui-la que se acredita “zero em morte”, e em que o poder repousa nessa exclusão. A morte desaparece do sitema e o poder do Império repousa sobre essa espécie de “Não-morte”, de “não-fato”. É então que singularidades surgem, mas diferentes do discursos que elas sustentam. Eu não posso julgar a retórica islâmica, eu não consigo... É necessário tentar ver aquilo que está no ato, além da ideologia dos atores.”
Tradução: Augusto Patrini
« Ces histoires-là c'est du « rhabillage ». Si je veux analyser le terrorisme, je ne vais pas le faire en fonction du discours islamiste. C'est une façon d'exorciser les choses que de les renvoyer à une religion, à une idéologie, à une conviction. Si j'observe le terrorisme, c'est l'acte terroriste en tant que fracture d'une puissance mondiale. Cela peut venir de n'importe où, et qu'il y ait des convictions religieuses derrière ne m'intéresse pas. La résurgence des discours ethniques, religieux, linguistiques montre que quelque chose se crispe, se cristallise contre l'hégémonie, contre « l'empire », contre cette pensée unique, cette puissance unique. D'aucuns l'appellent un choc de cultures, un choc d'idéologies. Mais c'est insoluble. Prendre parti pour ou contre ne m'intéresse pas. Ce que je cherche à voir, c'est l'antagonisme véritable. Or, l'antagonisme se manifeste sur un mode symbolique, c'est donc tout autre chose : il s'agit de la mise en jeu de la mort dans un système qui cherche à exclure, qui se veut « zéro mort », et dont la puissance repose sur cette exclusion. La mort disparaît du système et le pouvoir de l'Empire repose sur cette espèce de non-mort, de non-événement. Alors des singularités surgissent, mais différentes du discours qu'elles tiennent. Je ne peux pas juger de la rhétorique islamiste, je n'y rentre pas... Il faut essayer de voir ce qu'il en est de l'acte en dehors de l'idéologie des acteurs. »[3]
[1] Entretien dans Le Philosophoire, op.cit., p.7
[2] Ibid., p.9
[3] Entretien in Le Philosophoire, pp.10-11
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
A História por Jean Baudrillard
“Passava-se da história transcendeste, à grande História, para uma espécie de contra-história. Descia-se em direção ao anódino e a banalidade que se tornavam objetos dignos de interesse na área histórica. (...) Já se tinha descido a História, dos grandes movimentos sociais e históricos. E finalmente, sob estes ares pouco benignos, este mergulho na vida cotidiana, mesmo se eu não gosto muito deste termo que é um pouco redutor, era assim mesmo uma espécie de revolução. De fato, mais que uma involução relacionada à história, descia-se da transcendência da História para uma espécie de imersão na vida cotidiana, e por meio de todas as coisas, tais como a sexualidade, que tínhamos amplamente esquecido no idealismo histórico.”
Tradução: Augusto Patrini
« On passait de l'histoire transcendante, la grande Histoire, à une sorte de contre-histoire. On descendait vers l'anodin et la banalité qui devenaient des objets dignes d'intérêt sur le plan historique (…) On était déjà redescendu de l'Histoire, des grands mouvements sociaux et historiques. Et finalement, sous ses airs un peu bénins, cette plongée dans la vie quotidienne, même si je n'aime pas beaucoup ce terme qui est un peu réducteur, c'était quand même une espèce de révolution. En fait, plutôt une involution par rapport à l'Histoire. On descendait de la transcendance de l'Histoire dans une espèce d'immanence de la vie quotidienne, et à travers elles toutes ces choses telles que la sexualité qu'on avait largement oubliées dans l'idéalisme historique. »[1]
[1] Entretien avec Jean Baudrillard réalisé par Raphaël Bessis et Lucas Degryse, publié dans la revue Le Philosophoire (Université de Toulouse-Le Mirail - Le Philosophoire), n°19 consacré à l'histoire, pp.4-21