terça-feira, 21 de julho de 2009

Dos objetos e das fontes do historiador



Dos objetos e das fontes do historiador

Por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes

O que realmente caracteriza o trabalho histórico? Seus objetos e fontes? Atualmente, certamente não. Será então o historiador o profissional ou o intelectual que estuda o passado? Mas o passado existe? Ora, hoje todos sabem que o tempo é relativo. Então o que realmente nos caracteriza? O fato de como narramos o que é considerado histórico? Ou o método empregado para elaborar essa narrativa? Provavelmente trata-se disto quando falamos de História (forma de conhecimento humano).

O passado, claro, é diferente do próprio discurso histórico. Há, assim uma diferença mais ou menos entre a história humana, a memória e seu produto pensado; a historiografia. Além disso, cabe dizer que também há uma substancial diferença entre História e memória (sejam elas de uma pessoa, de um povo ou de uma cultura). Entretanto, essas são categorias de pensamento não tão simples quanto gostaríamos didaticamente de apresentá-las.

Ora, seguindo essa reflexão perguntamo-nos: O que será então um objeto histórico? Considera- se que quase tudo está sob o efeito do tempo - idéia abstrata e complicadíssima estudada muito bem pelos físicos -, objetos, vestígios, mentalidades, estruturas de sentimentos, mitos, identidades e simbologias – tudo pode ser “objeto” de estudo de um historiador. Tudo é vestígio de um tempo passado. A questão, entretanto sempre será como captar essa impressão ou marca de um tempo hipoteticamente determinado? A fonte da história é tão plural, quanto às categorias temporais até hoje explicáveis ao entendimento humano, mas não se pode deixar de assinalar que há certamente algo que diferencia a análise histórica de outras formas de conhecimento humano que guardam algum parentesco (sociologia, filosofia, psicanálise, antropologia etc), mesmo quando relativas ao passado. Não se trata, pois do objeto oaquilo que caracteriza a especificidade do pensamento histórico, mas de sua forma, e estrutura formal (comumente aceita) que são caracterizadores desse tipo de pensamento. Não se trata apenas de um discurso que trate do passado, mas de um discurso que aborde o passado referenciado em algo geralmente considerado como verdadeiro ou ainda indiciário.

Nesse sentido, algo líquido e fugaz como a memória ou as “estruturas de pensamento” , literatura, arte, poesia podem ser consideradas fontes do discurso histórico, mas não são historiografias prontas em si., necessitam da análise e da reflexão específica do historiador.

Cabe, ainda fazermo-nos uma pergunta singular – feita no começo do século XX por Oswald Spengler, não somente para quê existe a história, mas para quem? Essa pergunta parece-me ainda sem resposta, entretanto fazê-la será sempre mais importante do que responde-la. Quando perguntamo-nos quais são os objetos da história, talvez também, mais importante que a resposta seja a pergunta que nos permite pensar como fazer história sem que ela não se limite aos planos simbólico ou ao natural, mas que possa ser mais ampla e global - sem no entanto ser imperialista.

Finalmente para pensar a diferença entre memória e discurso histórico, talvez seja mais interessante propor uma reflexão baseado em um curta-metragem animado, do que empreender um exaustiva busca teórica. Trata-se de “La Maison em petits cubes” (Tusimuki no ie) de Kumio Kato: http://www.vimeo.com/3987204 - ganhador do prêmio Cristal do Festival Internacional de Animação de Annecy em 2008 e do Oscar de melhor curta metragem animado em 2009. Ele propõe uma interessante reflexão sobre história, memória e resgate do tempo passado. Podemos por meio deste filme pensar várias categorias presentes no discurso histórico, e, ainda, sua forma e apresentação apresenta-nos uma aproximação interessante entre a historiografia a memória e a psicanálise.


Um comentário:

Anônimo disse...
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