terça-feira, 18 de março de 2008

Virando Séculos





Resenha por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes



Um pequeno livro floresceu neste começo de século entre a inteliguentsia brasileira. Ele é pequeno somente em tamanho e brasileiro por que seu autor é professor da universidade de São Paulo, e de nacionalidade brasileira. Trata-se, entretanto, de um pequeno grande livro, estou falando de Virando Séculos – A Corrida para o Século XXI, de Nicolau Sevcenko. Ele traça uma perturbadora e lúcida reflexão sobre o século XX e principalmente a passagem para o século XXI. Tomando uma viagem de montanha-russa como sua imagem e inspiração básicas, o historiador e crítico da cultura Nicolau Sevcenko avalia a transição do século XX para o XXI como um processo de aceleração contínua, e nos alerta para a importância de se analisar criticamente estas transformações.
Ele, em certo sentido é assustador, por diagnostica de forma impiedosa os principais problemas da atualidade: aquecimento global, desmonte do estado de bem estar social, fragmentação de paradigmas, mercantilização da arte e da cultura, transformações tecnológicas - desigualdades sociais e políticas, porém, mesmo assim, Sevsenko não deixa de apresentar-nos alguma esperança. Se por um lado o desmoronamento das utopias “socialistas” realizadas trousse em seu bojo alguma desilusão também permite que pensemos outras soluções para a contemporaneidade, livre das prisões dogmáticas e dos ismos, que tanto enquadraram o pensamento de esquerda latino-americano e mundial.

Parece-me que o mestre Sevcenko, por sua lucidez é capaz de enxergar uma saída para nós. Para ele, como para outros homens de sua geração, a saída estará sempre nas margens: é por isso que no final do livro ele aponta para a contra-cultura, em suas expressões, plásticas e principalmente musical; com seus possíveis e necessários desdobramentos políticos e sociais.
Assim, esse pequeno livro é fundamental nesse começo de século, tão farto em niilismo e desilusão. Fundamental para historiadores, sociólogos, comunicólogos e outros intelectuais. É interessante constatar como justamente essa crise de paradigmas, e o fim dos nacionalismos, e do Estado Nação como se configurou no século que passou, pode ter ares de emancipação e libertação, desde que saibamos ver um caminho, e que estejamos prontos para olhar para as margens, onde surge, segundo nosso autor, uma nova geração disposta a lutar por mudanças. Penso mesmo que este livro pode ser base teórica, para o fazer historiográfico contemporâneo, já não pautado por antigas formas e categorias, como Estado e Economia, mas um fazer historiográfico aberto para a cultura, para as idéias, para o imaginário e para as representações.


Nicolau Sevcenko; coordenação Laura de Mello e Souza, Lilia Moritz Schwarcz - São Paulo, Companhia das Letras, 2001 (Virando Séculos;7).

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