Por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes
Jornalista, tradutor e historiador
A Miséria está nas entranhas do povo brasileiro, e ela é principalmente intelectual – todo brasileiro é, via de regra, um sociopata: vê seu semelhante comer lixo, morrer nas ruas e não faz absolutamente nada. O brasileiro médio é um individualista do tipo imbecil, que só olha para si mesmo, e se sente no direito de meter-se na vida alheia.
À medida que reencontro as ruas da cidade de São Paulo, tenho a impressão que o apocalipse é algo próximo, que toca-nos no tempo presente, e no rosto da grande maioria vejo apatia e futilidade. A culpa pelo subdesenvolvimento brasileiro não é do imperialismo, nem dos norte-americanos, nem das transacionais. A culpa por esse subdesenvolvimento não é somente da classe política brasileira, mas de seu povo que é apático, indolente e amante das aldeias de Potemkin. Há por todo lado um orgulho vazio, um nacionalismo tacanho e provinciano.
Um estudo político e social da história de nossos vizinhos do Cone Sul – Uruguai, Argentina e Chile, que mesmo em época de barbárie nunca deixara de levantar-se em uma insubmissão rebelde, revela quão distante estão da barbárie e da apatia consumista brasileira. O Índice de desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil está em 0.800, abaixo de países como Albânia, Macedônia, Omã, Bósnia, Panamá, Ilhas Mauricius, Malásia, Bielorússia, Rússia, Emirados Árabes Unidos – enquanto, Uruguai está em 0.852, A Argentina em 0.869 e o Chile em 0.867 o que os coloca na frente de países integrantes da União Européia como Eslovênia 0.863, Letônia (0.855), Estônia (0.860) e Lituânia (0.862). O subdesenvolvimento brasileiro explica-se pela indolência do brasileiro e seu habito cultural de querer levar vantagem em tudo. Já o desenvolvimento de nossos parceiros do Cone Sul pode ser explicado se observamos suas histórias, fartas em revoluções, sublevações, crises e enfrentamentos com as classes privilegiadas e os governantes. Estes países também, apesar de todos seus problemas, investiram maciçamente em educação, desde suas independências – o que resultou em povos dotados de capacidade reflexiva e crítica. Nestes países há e houve desde muito cedo a formação de uma sociedade civil, que atuante, sempre exigiu mudanças e contribuiu para formar um sólido capital social. Argentinos, chilenos e uruguaios nunca hesitaram em exigir a saída de governantes traidores ou opressores. E ir para a rua, para exigir que seus direitos constitucionais não fossem meras ficções. Mesmo crises econômicas e agudas não destruíram este capital e cultural historicamente construído.
Já o Brasil saiu de uma ditadura fascista festejando uma vergonhosa anistia “que levaria a uma abertura lenta gradual e segura” como diziam os milicos no poder nestes três países, julgamentos foram realizados e levaram ao banco dos réus antigos governantes e torturadores, enquanto no Brasil elegeu-se deputados federais notórios torturadores. E a democracia brasileira deixou no poder os mesmo fascistas que mataram e saquearam o país, e que agora se vestem de democratas. Mas o povo brasileiro parece ter memória curta, e já esqueceu 20 anos de uma brutal ditadura – que montou aldeias Potemkins – em que os brasileiros médios continuam acreditar. Orgulham-se de seus compatriotas comendo lixo, e rastejando pela terra. A sociedade civil brasileira é hoje o que se têm de mais cônico e hipócrita – ousam mostrar uma alegria – que se torna um insulto diante dos milhares de miseráveis e subnutridos do país. A classe media foi devidamente enquadrada no monopólio dos meios de comunicação, em um consumismo apático – na ditadura dos automóveis e programas televisivos imbecilizantes. Em metrópoles como São Paulo assiste-se uma verdadeira volta ao feudalismo, ali grandes cidadelas são construídas para proteger 2/3 dos ricos dos países. Ricos estes que geralmente, são intelectualmente subdesenvolvidos e patéticos, dependentes de mensageiros modernos, os “motoboys” mortos um por dia no caótico e paralisado trânsito paulistanos – enquanto a cidade é portadora da maior frota de helicóptero do mundo. Triste e vergonhoso record. Em São Paulo o ar é envenenado, bebe-se água contaminada com esgoto, enquanto a maior floresta equatorial do mundo – no norte brasileiro – é devastada por queimadas, o avanço da cultura da soja. Somos por isso, o 4º maior emissor de poluentes atmosféricos, além de campões em números per capita em mortes no trânsito. A maior causa de morte entre nossos jovens entre 14 e 27 anos não é nem a AIDS (também somos um dos maiores campeões neste item), nem outro problema de saúde – mas homicídios. Até mesmo Curitiba, cidade nacionalmente que antes se orgulhava de ser socialmente mais justa, hoje é a capital em número de homicídios per capta.
No que se refere à educação estamos abaixo de países os Emirados Árabes Unidos. Somos um país com muitos analfabetos, mas, sobretudo muitos iletrados. O mercado editorial brasileiro é pautado por edições de luxo e capas atraentes. De cada dez livros vendidos, apenas um é lido, o resto vira enfeite de luxo.
Mesmo assim, o brasileiro ainda acha que somos o país do futuro. Muitos brasileiros são ufanistas e nacionalistas. Afinal vocês se orgulham de quê? De nossas crianças sem educação? De uma educação que está entre as piores do mundo? De nosso país que não é nação? De uma Constituição que é uma ficção de facto, ou pior uma piada de péssimo gosto? De nosso vazio cultural, social e existencial? De nossas fronteiras ridiculamente fechadas para países irmãos?
Até quando vocês terão orgulho disso tudo? Até quando vocês esconderão toda essa podridão em baixo do tapete? Até quando? Quando o futuro tornar-se apocalipse? Quando o país mergulhar em uma guerra social? Até quando vocês viverão assim?
Até quando vivermos no país do faz-de-conta?
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