sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A Revolução de 1848 na França – Uma leitura de textos de Marx e Tocqueville





Augusto Patrini Menna Barreto Gomes





Situando Questões

Compreendendo um período tradicionalmente associado ao intervalo que vai do ano de 1848 a 1849, a chamada “Revolução de 1848”, envolve uma série de acontecimentos e “movimentos” políticos – e engloba vários países europeus. Entre os vários ‘movimentos’ do período revolucionário de 1848, encontrasse a insurreição (ou Revolução) de fevereiro de 1848, acontecida em Paris, e que foi responsável pela derrubada da Monarquia de Julho e a instauração da efêmera Segunda República Francesa.
Com relação ao período, especificamente no que diz respeito à França, o período revolucionário e seus desdobramentos são bastante conhecidos, sobretudo pela ampla divulgação do texto de Marx; “18 Brumário de Luis Bonaparte”[1]- que aborda os desdobramentos da revolução e trata, em particular, do golpe de Luis Bonaparte.
Neste texto clássico Marx afirma que: “[...] a Revolução de 1848 não soube fazer nada melhor do que parodiar ora 1789, ora a tradição revolucionária de 1793-1795”. (MARX, p. 21).
Nesse ponto, um outro comentador do período, Tocqueville, em “Lembranças de 1848”[2], parece concordar, ao falar da revolução de fevereiro de 1848, afirma: “os homens da primeira revolução estavam vivos em todos os espíritos, seus atos e suas palavras presentes em todas as memórias. Tudo o que presenciei nesse dia trazia a marca visível de tais lembranças; sempre tive a impressão de que houve mais esforços para representar a revolução Francesa que para continuá-la” (TOCQUEVILLE, p. 75)
No entanto, o período revolucionário de 48 na França pode ser considerado algo bastante relevante na história contemporânea. Nesse país assim como em vários outros lugares da Europa, segundo vários autores da historiografia, os burgueses liberais aliados aos operários promoveram insurreições contra monarquias, as antigas aristocracias, e uma parcela burguesa associada a estes. No caso particular da França a revolução eclodiu sob o “reinado” do rei “burguês”, Louis Philippe, derrubado em fevereiro de 1848 – assumindo um governo provisório que logo proclamou a República.
Em poucas palavras todo o período revolucionário de 1848 na França abarca alguns fatos relevantes que podem ser relembrados:
1. A Revolução (insurreição) de Fevereiro acontece nos dias 22, 23 e 24, motivada pela questão da proibição dos banquetes, mas também por questões econômicas e sociais. Os organizadores da oposição radical, não conseguem controlar os insurretos.
2. O Governo provisório integrado por burgueses liberais, socialistas (os partidários do ‘La Reforme’ e do ‘Le National’) e um representante da classe operária (Albert), proclama a Segunda República. São implementadas as Fábricas Nacionais. É também reconhecido o direito ao trabalho. Posteriormente, o imposto Garnie-Pagés, que inside sobre a propriedade territorial, desagrada fortemente os camponeses que sentem-se prejudicados e culpam as Fábricas Nacionais.[3]
3. No dia 23 de abril acontece a eleição da Assembléia Nacional. Pela primeira vez o sufrágio é universal e masculino.
4. Dia 15 de maio ocorre a chamada queda da “democracia social” após manifestação de apoio a Polônia, a invasão da Assembléia Nacional e a prisão dos seus principais líderes. Uma tentativa de insurreição se evapora rapidamente e a comissão “operária” do Palácio de Luxemburgo é dissolvida.
5. No dia 24 de junho é finalmente derrubada a “democracia liberal” nas jornadas de junho, quando do fechamento das Fabricas Nacionais, os operários de Paris se revoltam e levantam barricadas por toda cidade. A Assembléia Nacional destitui a Comissão Executiva e concede amplos poderes ao general Cavaignac, que governa com poderes ditatoriais. A Repressão é brutal e sangrenta e sufoca a insurreição de junho.
6. Em dez de dezembro de 1849 a eleição de Luís Bonaparte para a presidência da República, sepulta definitivamente as esperanças revolucionárias. Radicais e liberais têm uma votação pífia.
Como nos lembra, porém, Jean-Luc Mayaud, além destes fatos; “les historiens reconnaissent en 1848 la fille de 1789 qui fixe la fin définitive de l’Ancien regime économique et social, qui innove par la plocamation du suffrage universal masculin, qui marque enfin par l’“esprit de 1848”. (MAYAUD, J., p. 328)[4]

Cabe, no entanto, perguntar-nos como estes fatos são interpretados pelos diversos autores que documentaram contemporaneamente os acontecimentos. Dois autores que tratam os acontecimentos de 48 na França são Marx e Tocqueville.
Como afirma o professor Renato Janine Ribeiro: “No começo dos anos 1850 dois homens que certamente nunca se viram, e que teriam bem pouca estima um pelo outro caso se conhecesses, meditam o mesmo assunto: as crises e a ruína da Segunda República francesa. [...] Um deles é Karl Marx, jornalista [...] militante de extrema esquerda, jornalista. [...] O outro estudioso contemporâneo de 1848 é Aléxis de Tocqueville, conde, já celebre por seu livro A Democracia na América e que nos anos da Segunda República participará do parlamento...” (RIBEIRO, Renato Janine in TOCQUEVILLE, 1991).
Apesar da grande variedade de textos a tratar do período revolucionário de 1848 – entre eles textos de Bakunin, Proudhon e Victor Hugo -, por motivos metodológicos trataremos, neste trabalho, prioriatariamente os acontecimentos de fevereiro na França de 1848 e algumas de seus desdobramentos, tratados igualmente em Tocqueville (autor do partido da ordem) e Marx (autor partidário da revolução) - autores que daremos prioridade.
Por isso neste trabalho nos concentramos nas obras:

· Tocqueville, Alexis de, Lembranças de 1848. São Paulo: Cia das Letras, 1991
· Marx, K. As Lutas de Classes em França. Lisboa: Edições Avante, 1884

Ambos os documentos constituem fonte interessante de pesquisa para o historiador interessado em descobrir a os acontecimentos parisienses do ano de 1848.
A avaliação destes dois autores é, no entanto, em alguns pontos, diametralmente oposta. Para Tocqueville a revolução fracassa por ser demasiadamente radical, já para Marx por ser demasiadamente branda. O primeiro faz uma narrativa minuciosa, descritiva e impressionista, muito meticulosa em relação aos fatos e aos homens. O segundo faz uma análise social dos acontecimentos, sem se fixar em fatos particulares, olhando, sobretudo para as estruturas, não esquecendo de abordar fatores econômicos e estruturais da revolução[5]. Apesar disso os dois autores, concordam em interpretar os acontecimentos de 1848 como momento onde acontece um “combate de classe”.
No entanto seria interessante lembrar que para Marx, a revolução de fevereiro foi um levante de parte das elites que se encontravam alijadas do poder político, aliada a parcela do operariado parisiense. Porém, com a posterior derrota proletária nas Jornadas de Junho (1848) e, especialmente com o golpe de Napoleão ficou bastante evidente que a burguesia mesmo “dividida em dois setores dinásticos-monárquicos, mas exigindo acima de tudo sossego e segurança para suas transações financeiras” (F. Engels in K Marx, p. 19)[6] e não pretendia dividir seu poder político conquistado com e às custas do proletariado. Nestes dois momentos fatídicos, para luta popular, a ilusão da República “Solidária” – que propunha acabar com a tensão entre as classes – cai por terra. A classe burguesa antes revolucionária torna-se, por fim, claramente anti-revolucionária. Alia-se, na França como em toda Europa, neste momento à reação da aristocracia. Para Marx é exatamente a aliança “duvidosa” que fazem os insurretos em 48, o principal motivo do fracasso da revolução. Para as interpretações marxistas que o seguiram a derrota foi também das formas pré-revolucionárias de luta.
Como afirma Mayaud, em seu texto sobre a revolução de 48: “Pour la tradition marxiste, l’alliance consuse des classes scellés sur les barricades de février éclate devant la question sociale et la “republique bourgeoise” jette alorns le masque.”(Mayaud, p. 330).
Uma leitura comparada

Analisando os dois textos observa-se a correção da análise de Marx que interpreta o objetivo do chamado “partido da ordem” como a busca radical em garantir a ordem social. O texto de Tocqueville parece confirmar essa visão, pois este defende “toda uma sociedade que se via ameaçada pela desordem e pela anarquia” (RIBEIRO, P. 10).
É bastante interessante notar que os dois autores, além de concordarem com a natureza de classe do embate, confluem em mais um ponto de sua crítica, aquele que acusa a retórica. Tocqueville critica enfaticamente em seu texto o que chama de retórica dos demagogos de esquerda e o poder baseado em apenas uma classe, enquanto Marx crítica os chamados radicais “pequenos burgueses”, ao seu ver moderados demais, iludidos com as reais possibilidades do novo regime. Apesar de os dois autores, estarem posicionados ideologicamente em lados opostos das “barricadas” concordam na critica violenta a retórica incendiária dos “irrealistas”.
Em trecho significativo e sintético do 18 Brumário Marx afirma:
“A Revolução de Fevereiro foi um ataque de surpresa, apanhando desprevenida a velha sociedade, e o povo proclamou esse golpe inesperado como um feito de importância mundial que introduzia uma nova época. A 2 de dezembro, a Revolução de Fevereiro é escamoteada pelo truque de um trapaceiro, e o que parece ter sido derrubado já não é a monarquia e sim as concessões liberais que lhe foram arrancadas através de séculos de luta. Longe de ser a própria sociedade que conquista para si mesma um novo conteúdo, é o Estado que parece voltar à sua forma mais antiga, ao domínio desavergonhadamente simples do sabre e da sotaina. Esta é a resta que dá ao coup de main de fevereiro de 1848 o coup de tête de dezembro de 1851. O que se ganha facilmente se entrega facilmente. O intervalo de tempo, porém, não passou sem proveito. Entre os anos de 1848 e 1851 a sociedade francesa supriu - e por um método abreviado, por ser revolucionário - estudos e conhecimentos que em um desenvolvimento regular, de lição em lição, por assim dizer, teriam tido que preceder a Revolução de Fevereiro se esta devesse constituir mais do que um estremecimento da superfície. A sociedade parece ter agora retrocedido para antes do seu ponto de partida; na realidade, somente hoje ela cria o seu ponto de partida revolucionário, isto é, a situação, as relações, as condições sem as quais a revolução moderna não adquire um caráter sério.” (MARX, p. 24 e 25)

Para Tocqueville, no entanto, a revolução é um distúrbio na ordem, algo a ser lamentado por transgredir o que chama de “espírito público” – ou o bem comum. Em seus relatos, assim como nos de Marx (mas por motivos diferentes), não há entusiasmo com os acontecimentos, como podemos observar, por exemplo, em Bakunin: “Parecia que o universo inteiro havia mudado; o inacreditável tornara-se habitual; o impossível, possível; e o possível e o habitual, insanos. Em uma palavra, o estado de espírito era tal que, se alguém viesse dizer: ‘Deus acaba de ser expulso do céu onde a República foi proclamada!’, todo mundo teria acreditado e ninguém teria se surpreendido” (BAKUNIN, Michael A., p. 10 e 11)[7].
Porém, como se sabe, esse momento da história contemporânea foi interpretado pela historiografia de várias formas: algumas vezes como revolução política,outras como revolução social, também revolução romântica, e até revolução liberal, revolução interrompida, desvio etc. Porém, como vimos ela é, sem dúvida, uma revolução social para nossos dois autores: Marx e Tocqueville. Para ambos há nos acontecimento de 1848 uma subversão da sociedade e não somente da forma do Estado.
Para Tocqueville era possível perceber antes de 1848 “sinais que em geral anunciavam a aproximação de uma revolução [...]”(TOCQUEVILLE, p. 41). Em discurso na Assembléia Legislativa ainda em 1847, ele afirma:

“[...] Logo, a luta política travar-se-á entre os eu possuem e os que não possuem, o grande campo de batalha será a propriedade, e as principais questões da política girarão em torno das modificações mais ou menos profundas que serão introduzidas no direito dos proprietários. Então, voltaremos às grandes agitações públicas e aos grandes partidos. Diz que não há perigo, por que não há desordem material na superfície da sociedade, as revoluções estão longe de nós. [...] Senhores, permiti-me dizer-vos que creio que vos enganais. Sem duvida a desordem não está nos fatos, mas entrou bem profundamente nos espíritos. Olhai o que se passa no seio dessas classes operárias, que hoje, eu reconheço, estão tranqüilas. É verdade que não são atormentadas por paixões políticas propriamente ditas, no mesmo grau em que foram atormentadas outrora; mas não vedes que suas paixões tornaram-se sociais? Não vedes que pouco a pouco propagam-se em seu seio opiniões, idéias que de modo nenhum irão derrubar tal lei, tal ministério, mesmo tal governo, mas a sociedade, abalando as bases nas quais hoje repousa?[...]Tal é, senhores, minha convicção profunda: no momento em que estamos, creio que dormimos sobre um vulcão[...]” (idem, p. 42 e 43).

Percebemos que ele identifica como responsável pela “agitação do povo” idéias. Para Marx, no entanto, os motivos da revolução não são idéias, mas razões concretas; a praga da batata e as más colheitas de 1845 e 1846 e carestia de 1847 e, também, as “ escandalosas orgias da classe financeira” que exaltaram os ânimos das classes populares e fizeram que lutassem pelos gêneros de primeira necessidade. Outro motivo bem destacado por Marx foi a crise geral do comércio e da indústria na Inglaterra: “A devastação que a epidemia econômica causara no comércio e na indústria tornou ainda mais insuportável a dominação exclusiva da aristocracia financeira. Em toda a França, a burguesia oposicionista promoveu agitação de banquetes por uma reforma eleitoral que conquistasse a maioria na Câmara e derrubasse o ministério da Bolsa”. (Marxs, p.42)
Como se vê, ao contrário de Tocqueville que identifica o motivo da revolução como a “degradação dos costumes públicos”, Marx ao ligar uma causa política a um fator (os banquetes) que teria grande implicação na insurreição de fevereiro, não deixa de relacioná-lo com fatores econômicos.
Sobre os banquetes Tocqueville acrescenta que “a agitação criada no país pelos banquetes ultrapassa não somente as esperanças, mas também os desejos daqueles que a haviam feito nascer; trabalhavam mais para reduzi-la que para aumentá-la. Tinham a intenção de não mais realizar banquetes, em Paris ou mesmo em qualquer outro lugar, depois da convocação das Câmaras.” (TOCQUEVILLE, p. 48)
E acrescenta ainda sobre o caráter dos seus organizadores e a reação governamental: “De sua parte o governo empurrava a oposição com seus desafios a essa empresa perigosa, acreditando estar conduzindo-a à sua destruição. A oposição seguia o caminho por bravata e para não parecer que recuava, ambas as partes excitando-se e aguilhoando-se, empurrando-se assim em direção ao abismo comum ao qual já estavam chegando, sem contudo vê-lo.” (idem, p. 48). Mas ainda, ressalta que uma das estranhas características da insurreição de fevereiro é “que o fato que a originou tenha sido dirigido e quase desejado por aqueles que seriam derrubados do poder, e que ele tenha sido previsto e temido apenas pelos homens que iriam vencer.” (idem, p. 50).
Ou seja, o que Tocqueville critica é justamente que a monarquia de julho deveria ter sido conciliatória e que a oposição apesar de exultante foi demagógica. Ao contrário, Marx identificaria na ruína da 2ª República justamente a hesitação da oposição e uma política de conciliação de classes. Porém, os argumentos de Marx sobre o vacilo dos democratas radicais é confirmado pelo texto de Tocqueville.
Ao comentar o ataque sofrido pelo ministério de Guizot, percebemos outra crítica interessante presente em Tocqueville. Essa crítica diz respeito a dinâmica política institucional, quando os homens são motivados por cargos e instrumentos de poder: “Se muitos conservadores só defendiam o ministério com vista a manter emolumentos e cargos, devo dizer que, a meu ver, muitos membros da oposição só o atacavam para conquistá-los. A verdade, deplorável verdade, é que o gosto pelas funções públicas e o desejo de viver à custa dos impostos não são, entre nós, uma doença particular de um partido: é a grande e permanente enfermidade democrática de nossa sociedade civil e da centralização excessiva de nosso governo; é esse mal secreto que corroeu todos os antigos poderes e corroerá igualmente todos os novos.” (idem, p. 57). Nessa crítica também parece confirmar as teses de Marx sobre a ação da oposição burguesa e da pequena burguesia.
Para Tocqueville um dois principais motivos da queda do governo da monarquia de julho foi o fato de se apoiar em apenas uma parcela da classe burguesa: “[...] na França, um governo equivoca-se toda vez que toma como ponto de apoio unicamente as paixões egoístas e os interesses exclusivos de uma só classe. Isso só pode dar certo em nações mais interessadas e menos vaidosas que a nossa; entre nós, quando um governo assim fundado torna-se impopular, ocorre que os membros da própria classe em favor da qual ele se impopulariza preferem o prazer de o criticar, como todo mundo, aos privilégios que o governo lhe assegura.”(idem, p. 64). E ainda acrescenta: “Penso, pois, que no final das contas, o método mais seguro a ser adotado entre nós pelo governo, para se manter é o de governar e, sobretudo visando o interesse de todos” (idem, p. 64 e 65). Mais uma vez alguns argumento do nosso autor partidário da ordem, parecem confirmar as teses de Marx, sobretudo no que se refere ao apoio da monarquia de julho em uma parcela da burguesia: “[...] sob Louis-Philippe não era a burguesia francesa quem dominava. Quem dominava era apenas uma fração dela: banqueiros, reis da bolsa, reis do caminho-de-ferro, proprietários de minas de carvão e ferro e de florestas e uma parte da parte da propriedade fundiária aliada a estes – a chamada aristocracia financeira. [...] A burguesia industrial propriamente dita constituía uma parte da oposição oficial”.(MARX, p. 37). E acrescenta mais: “A monarquia de julho era apenas uma sociedade por ações para explorar a riqueza nacional da França e cujos os dividendos eram distribuídos por ministros, câmaras, 240 000 eleitores e o seu séqüito. [...] Num tal sistema, o comércio, a indústria, a agricultura, a navegação, os interesses da burguesia industrial não podiam deixar de estar constantemente ameaçados e de sofrer prejuízos. [...] A burguesia industrial via os seus interesses em perigo; apequena burguesia estava moralmente indignada; a fantasia popular estava revoltada; Paris estava inundada de folhetos.” (idem, p. 40 e 41).
Sobre o caráter de conciliação de classes do Governo Provisório, erguido pelas barricadas de fevereiro, Marx afirma que era composto pela pequena-burguesia , pela classe operária e, na sua grande maioria, pela burguesia, seja representada pela burguesia republicana, seja pela “oposição dinástica”. Para ele, está claro que “o porta-voz da revolução de Fevereiro pertencia a burguesia” (MARX, p. 43). Ao povo era reservada a função de levantar as barricadas e lutar nas ruas.
“A pequena burguesia republicana estava representada por Ledru-Rollin e Flocon; a burguesia republicana por gente do Nacional; a oposição dinástica por Crémieux, Dupont de L’Eure, etc. A classe operária tinha apenas dois representantes.” (idem, p. 23).
Com a queda da monarquia em fevereiro de 1848, Tocqueville afirmará: “[...] o mau governo do príncipe havia preparado a catástrofe e o precipitado do trono. [...] Acredito que os acidentes desempenharam um importante papel na Revolução, porém que nem tudo se deve a eles.” (Tocqueville, p. 83). Ele parece, assim como Marx consciente das modificações causadas pela “Revolução Industrial” (termo empregado por ele), porém apesar disso relaciona entre as causas da revolução também idéias:

“[...] o ardor dos gozos materiais que, sob o aguilhão do governo, excitava cada vez mais essa multidão [operários]; a inquietação democrática da inveja que minava surdamente; as teorias econômicas e políticas que surgiam e que tendiam a fazer crer que as misérias humanas eram obra das leis e não da Providência, e que a pobreza podia ser suprimida mudando-se a base da sociedade; o desprezo que se devotava à classe governante, sobretudo aos homens que a encabeçavam, desprezo tão geral e profundo que paralisou a resistência daqueles a quem mais interessava a manutenção do poder que derrubava; a centralização que reduziu toda operação revolucionária a apoderar-se de Paris e pôr a mão sobre a máquina administrativa montada; a mobilidade enfim de todas as coisas, instituições, idéias, costumes e homens em uma sociedade movediça, que fora sacudida por sete grandes revoluções em sete anos, não se considerando a infinidade de pequenos abalos secundário: estas foram as causas gerais sem as quais a Revolução de Fevereiro teria sido impossível.” (idem, p. 84 e 85)

Como já foi dito, Tocqueville, assim como Marx, acredita que a revolução de 48 foi em vários pontos uma repetição da revolução francesa de 1789:
“Ao Antigo Regime havia sucedido a Monarquia Constitucional; à Monarquia, a República, o Império, a Restauração; depois viera a Monarquia de Julho. Após cada uma destas mutações sucessivas, foi dito que a revolução Francesa, tendo acabado o que presunçosamente chamava-se “sua obra”, havia terminado: era o que se dizia e no que se acreditava. [...] e eis a revolução Francesa que recomeça, pois é sempre a mesma. (idem, p.87)
Já para Marx o significado da proclamação da República, além de significar uma repetição farsista dos fatos de 1789, foi que o proletariado passou a ocupar um plano importante em toda França, esse lugar ocupado agora como partido autônomo “que desafiou contra si toda França burguesa”[8]. Os operários, instalados juntos com a burguesia no poder, pretenderam conseguir fazer valer suas demandas, como de fato foi reconhecido pelo governo provisório o direito ao trabalho de todo “cidadão”. Assim, a República de Fevereiro travestiu-se de uma “Fraternité” conciliatória embriagaria o proletariado e determinariam sua derrota. Isso porque o proletariado somente poderia, segundo Marx, fazer avançar a revolução arremessando-se contra os “direitos” burguesia. Porém por estar comprometido com “um gouvernement qui suspend ce malentendu terrible que existe entre lês différentes classes”[9] - segundo a expressão de Lamartine, encontrava-se com as mãos atadas.
Marx conclui então, que: “A República de Fevereiro teve isso sim de começar por consumar a dominação da burguesia fazendo entrar, ao lado da aristocracia financeira, todas as classes possidentes para o círculo do poder político.” (Marx, p. 44).
É interessante notar que nesse ponto Tocqueville parece discordar de Marx quanto ao caráter do governo provisório. Porém, parece confirmar o argumento de Marx que o proletário surgiria, enfim, como partido autônomo.
Ao falar sobre a questão da propriedade Tocqueville afirma ser este o principal “signo de desigualdade porquanto todos os privilégios que a envolviam e até a escondiam haviam sido destruídos ” (Tocqueville, p.95). Talvez o modo de ver de Tocqueville seja marcado por seu lugar de defensor da ordem: “A Revolução de Julho fora feita pelo povo, mas a classe média, que a havia suscitado e conduzido, colhera os principais frutos. A revolução de fevereiro, ao contrário, parecia feita inteiramente à margem da burguesia, e contra ela. Nesse grande choque, as duas partes que na França compunham substancialmente o corpo social haviam, de certo modo, se separado, e o povo a parte permanecia sozinho na posse do poder. Nada mais novo havia em nossos anais [...]” (Tocqueville, p. 92)
Apesar disso afirma que ao desaparecer a monarquia o povo perdera um inimigo claro a combater e isso fazia com que a revolução perdesse a força sob a ação dos burgueses republicanos e legitimistas. No entanto afirmará que a Revolução de Fevereiro estará marcada por um caráter socialista, que segundo ele, foram responsáveis e suscitar “a guerra entre as classes”. Para ele, “O socialismo permanecerá como caráter essencial e lembrança mais temível da Revolução de Fevereiro. De longe, a república só aparecerá como um meio, não como fim.” (idem, p. 95).
Para Marx, no entanto, “A emancipação dos operários – mesmo como mera frase – tornou-se um perigo insuportável para a nova república, pois constituía um contínuo protesto contra o restabelecimento do crédito que assenta no reconhecimento do crédito imperturbado e enconturbado das relações econômicas de classe vigentes. Era preciso, pois, acabar-se com os operários”(MARX, p. 53). Assim, a república acaba declarando na Assembléia Nacional que somente a república burguesa é legitima e a violência a ordem burguesa deve ser combatida.A partir daí, como já vimos a derrota da luta operária será definitivamente selada pelo fracasso das Jornadas de Junho e pelo golpe de Luís Bonaparte. Para Marx, portanto a ilusão das formas de luta pré-revolucionárias cai para parte do proletariado.
Por isso sobre as Jornadas de Junho Marx afirma: “A revolução de junho é a revolução feia, a revolução repugnante, porque o ato substituiu a palavra, porque a república pôs a descoberto a cabeça do próprio monstro ao derrubar a coroa que o protegia e ocultava. Ordem! era o grito de Guizot! [...] Ordem! Grita Cavaignac, o eco brutal da Assembléia Nacional Francesa e da burguesia republicana.” (MARX, p. 61). Assim conclui que qualquer mudança para melhor na situação de vida dos proletários seria uma utopia criminosa. Fica, portanto muito claro, que para Marx, o objetivo do Estado burguês “é eternizar a dominação do capital e a escravidão do trabalho”. Para ele é nesta derrota de junho que surge o novo grito do povo: “Derrube da burguesia! Ditadura da classe operária!”[10].
Para Tocqueville, que ao cair a monarquia “encontrava repugnância instintiva ao recordar esse miserável mundo parlamentar que [...] havia freqüentado durante dez anos e no seio do qual tinha visto germinar a Revolução (Tocqueville, p. 97), o povo experimentava pela primeira vez um sentimento “onipotência”. “Os revolucionários de 1848, não podendo imitar as loucuras sanguinárias de seus predecessores[11], consolavam-se com freqüência reproduzindo as loucuras ridículas (idem, p. 141), e conclui que a revolução desta vez “não teve por objetivo mudar a forma de governo, mas alterar a ordem da sociedade. Não foi, para dizer a verdade, uma luta política [...] mas um combate de classe, uma espécie de guerra servil.” (idem, p. 149).
Como já falamos, ao contrário de Marx, Tocqueville afirmará que o fracasso da revolução, e, sobretudo das Jornadas de Junho foi seu caráter radical e sua acefalia: “Se a revolta tivesse tido um caráter menos radical e aspecto menos radical e um aspecto menos feroz, é provável que a maioria dos burgueses ficasse em suas casas; a França não teria acorrido em nossa ajuda; a própria Assembléia Nacional talvez tivesse cedido [...]. Os únicos homens que poderiam colocar-se no comando dos insurgentes de junho tinham sido presos prematuramente, como tolos, em 15 de maio, e só viram o som dos combates pelos muros da prisão de Vincennes.” (idem, p. 156 e 157)
E finalmente afirma, como partidário da ordem que é, que as Jornadas de Junho foram “necessárias e funestas” apesar de infelizmente não acabarem com o impulso revolucionário dos operários: “puseram fim pelo menos por algum tempo, ao que se pode chamar o próprio trabalho da Revolução de Fevereiro. Elas livraram a nação da opressão dos operários de Paris e a recolocaram na posse de si mesma.” (idem, p. 173)
E assim, como Marx completa há uma “falência” das utopias “pequeno-burguesas” socialista-democráticas ou radicais: “As teorias socialistas continuam a penetrar no espírito do povo sob a forma de paixões cúpidas e invejosas, nele depositando a semente de revoluções futuras; mas o partido socialista, enquanto tal, ficou vencido e impotente. Os montanheses, que a ele não pertenciam, logo sentiram que haviam sido irremediavelmente atingidos pelo mesmo golpe que abatera o partido socialista.”[12] (idem, p. 173 e 174).
Para concluir finalmente, e tomarmos como uma síntese do período, o que León Trotsky afirmou sobre 48: “No período heróico da história francesa nós nos vimos diante de uma burguesia esclarecida e ativa, que ainda não havia descoberto suas próprias contradições. A história havia lhe confiado a tarefa da liderança na luta pela nova ordem. Não só contra as instituições antiquadas da França, mas também contra as forças reacionárias de toda a Europa. Como conseqüência a burguesia unificou a nação reunindo as massas para a luta, transmitindo-lhe palavras de ordem e lhes mostrando uma tática para combate. A democracia unificou a nação baseada numa ideologia política. O povo – pequeno-burgueses, camponeses e operários – elegia burgueses como deputados e as instruções dadas a esses deputados por seus constituintes eram escritas segundo a linguagem de uma burguesia que era consciente de seu papel messiânico. Durante a revolução propriamente dita os antagonismos de classe se destacam claramente, mas o poder da inércia da luta revolucionária não foi tão grande para tirar do caminho os elementos mais conservadores da burguesia.”(TROTSKY, p. 104).

Apesar das diferenças marcantes entre os textos documentais de Marx e Tocqueville, percebemos que em muitos pontos os dois autores confluem para uma mesma opinião, sobretudo, no que diz respeito aos motivos da queda da monarquia, à natureza do novo governo republicano e seus integrantes ‘radicais’ e o motivo pelo qual a 2ª República acaba sendo “vencida” pela reação. É claro por sua diferença ideológica, e de classe social, olham para os fatos de forma diversa. Tocqueville parece olhar para os faltos com um misto de horror e medo; enquanto Marx, que já escreve com um certo recuo, só pode lamentar as “hesitações” dos radicais e a incapacidade de se chegar a uma verdadeira transformação social. Marx, não deixa de considerar que as condições econômicas e materiais não estavam “desenvolvidas” suficientemente bem para que o proletariado lutasse de forma independente nas lutas de 1848. Portanto, a conclusão importante de Marx, que a mesma de Trotsky, é que durante a revolução e posteriormente a ela ficou claro nesse momento histórico o antagonismo de classe entre a burguesia e o proletariado.


Bibliografia:
· Bakunin, Michael A. A revolução de fevereiro de 1848 vista por Bakunin in Textos Anarquistas. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2000.
· Castelot, André. Quarante-Huit in Histoires de France: restaurations et révolutions 1815 – 1845. Paris : Perrin, 2001.
· Hobsbawn, Eric, A primavera dos Povos in A Era do Capital. São Paulo: Paz&Terra, 2002
· Marx, K. O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997.
· Marx, K. As Lutas de Classes em França, Lisboa, Edições Avante, 1884.
· MAYAUD, J. La Révolutionde 1848: une histoire Sainte Revisitée in Les Révolutions Françaises. Paris: Fayard, 1989.
· Proudhon, P.-J. Les confessions d'un révolutionnaire : pour servir à l'histoire de la révolution de février. Paris : Garnier frères, 1851
· Rosenberg, Arthur A França em 1848 in Democracia e Socialismo. São Paulo : Global, 1986
· Sigmann J., 1848 Las revoluciones românticas y democráticas de Europa, in Historia de los Movimentos Sociales. Argentina: Siglo Ventiuno Editores, s/d.
· TOCQUEVILLE, Alexis de, Lembranças de 1848. São Paulo: Cia das Letras, 1991.
· Trotsky, Leon. 1789 – 1848 – 190 in 1905: resultados y perspectivas. S.l. : Ruedo Iberico, 1971
·
[1] K. Marx, O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997.
[2] TOCQUEVILLE, Alexis de, Lembranças de 1848. São Paulo: Cia das Letras, 1991.
[3] Com relação a ação dos camponeses durante a revolução de 1848 há bastante controvérsia. Jean-Luc Mayaud afirma, por exemplo, ao ser revelada na área rural a insurreição parisiense os camponeses aproveitam-se do vazio de poder, redobram sua contestação e se reapropriam dos bosques comunais – então nas mãos do estado, empreendem um corte selvagem da madeira disputada com os grandes proprietários, guerras aos castelos e presbíteros e protestos coletivos pelo direito de uso das terras.(La Révolution de 1848, p. 335)
[4] La Révolutionde 1848: une histoire Sainte Revisitée in Les Révolutions Françaises. Paris, Fayard.
[5] Fatores estes quase que ignorados por Tocqueville, pesar de seu “sentido agudo das realidades sociais” (Braudel). O autor responsabiliza rei e sua política pela revolução.
[6] Introdução de F. Engels à Edição de 1895 in Marx, K. As Lutas de Classes em França, Lisboa, Edições Avante, 1884.
[7] Bakunin, Michael A. A revolução de fevereiro de 1848 vista por Bakunin in textos Anarquistas. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2000.
[8] MARX, p. 44
[9] LAMARTINE in MARX, p. 48
[10] MARX, P. 62
[11] Tocqueville refere-se a Revolução Francesa e aos Jacobinos.
[12] Grifos meus.

13 comentários:

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