terça-feira, 11 de março de 2008

GOODY, Jack. Written and oral cultures in West África. In: The interface betweenthe written and the oral. Cambridge University Press, 1987. p.148-165.









por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes




GOODY, Jack. Written and oral cultures in West África. In: The interface betweenthe written and the oral. Cambridge University Press, 1987. p.148-165.

Este texto trata das diferenças existentes na transmissão do conhecimento por meio da cultura oral e da transmissão efetuada através de bases “literárias” (ou formas escritas). O autor usa o exemplo dos LoDogaa para evidenciar alguns prejuízos decorrentes da introdução “imperialista” da cultura escrita em uma cultura de tradição oral e, ainda, as tensões resultantes desta introdução. Essa sociedade do Oeste da África, a dos LoDagaa, concebe o aprendizado e a sua transmissão de diferentes formas, mas ela se realiza, principalmente, por meio da oralidade. Esta sociedade se caracteriza pelo uso do Tenkouri Yil, uma forma de conhecimento tradicional e oral que transmite conhecimentos práticos da vida em diversos contextos – nos cerimoniais, mas também nas experiências cotidianas. Essa forma de transmissão de conhecimento tem a “função” de transmitir “informações” adquiridas, oriundas do mundo espiritual e selvagem, prevendo também a assimilação de inovações. Os rituais têm, portanto, nestes casos, a função de elaborar as inovações.

Já nas sociedades de tradição escrita (sociedades chamadas literárias) o acesso à inspiração é feito por meio da arte e da religião, contudo, estas não possuem o mesmo status da “ciência” da transmissão escrita. O autor ressalta a capacidade da escola tradicional em transmitir e treinar formas de conhecimento. Para o autor este conhecimento literário teria seu valor ligado à metodologia e não ao seu conteúdo. Para ele, o conhecimento literário pode ser adquirido, é claro, por modo oral, mas mesmo assim permanece dependente de atividades “livrescas”. Portanto conhecimento livresco e ciência tornaram-se, para o autor, quase que sinônimos em sociedades de cultura predominantemente escrita.

Deste modo, o estabelecimento de escolas de cultura escrita nas culturas de tradição oral, como a dos LoDagaa, impõe uma dicotomia hierárquica entre as formas de aprendizado e transmissão de conhecimento. A qualidade de atividades “literárias” – transmitidas de forma escrita - é considerada sempre superior. O aprender e o ensinar na escola passam a ter um status superior, enquanto, a tradição oral passa ter seu valor depreciado. Isto traz fatalmente um impacto substancial na cultura dos mais diversos povos, que sofreram a introdução da cultura escrita. Na África, por exemplo, a introdução na educação da escrita formal deu origem a uma nova classe social – aquela dos burocratas, políticos, professores, que adquiriram uma posição superior frente aqueles que se mantiveram em atividades tradicionais ligadas à oralidade.

Apesar do lado negativo da introdução e suas ambigüidades grande parte dos Estados em desenvolvimento mantêm uma política de introdução “forçada” da cultura letrada em culturas orais.

Questões:

Seriam as formas de transmissão de conhecimento por via oral que contribuem para uma assimilação das inovações uma forma de psicanálise social?
Como introduzir o conhecimento sem causar um impacto negativo em culturas predominantemente orais?

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