segunda-feira, 3 de março de 2008

HÉBRARD, Jean. Les Bibliothéques scolarires. IN: Histoire des Bibliothèques françaises




HÉBRARD, Jean. Les Bibliothéques scolarires. IN: Histoire des Bibliothèques françaises. Les bibliothèques de la Révolution et du XIXe siècle: 1789-1914 (dir. Dominique Varry) Promodis – éditions du Cercle de la Librarie, 1991.p. 547-577
Por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes

Tratando a evolução política do projeto de implantação de bibliotecas escolares na França, o texto abarca o período que vai da Monarquia de Julho (1860) até o começo do século XX. Trata das iniciativas oficiais para implementar uma política pública para as bibliotecas escolares. Observamos no texto as dificuldades na implementação de uma política eficiente decorrentes das mudanças políticas, e conseqüentemente no conceito do projeto bibliotecário, e dos conflitos entre os vários envolvidos (administrações comunais, departamentais e central). É interessante, por que pode servir em uma análise comparativa, para o desenvolvimento educacional da América Latina; e portanto Brasil.

O texto trata também da oposição fundamental entre biblioteca escolar e a leitura pública (popular).
Ainda sob a Monarquia de Julho as bibliotecas nascem como “une petite bibliothèque-armoire,destine à la conservation des livres, des cahierset des cadres imprimes à l’usagede l’ecole.”
[1], transformando-se ao longo deste tempo em seu conceito e em seu conteúdo. Elas foram, em um primeiro momento, bibliotecas estritamente escolares, já sob o 3º Império – há um viés propagandístico, e estas passam a incorporar um projeto “popular” – que propõe sair do âmbito restrito da escola. Esse último projeto nasce da vontade de se propagar a cultura do livro entre setores não letrados da sociedade: “Elle s’inscrit moins dans la perspective des Lumières que dans cette d’unsouci d’encadrement des masses rurales et populaires...” (p. 547).

Quando o ministro da Monarquia de Julho, Gustave Rouland, transforma em 1862, o armário-biblioteca da escola em uma instituição, a função desta é guardar os manuais escolares e emprestar às famílias livros previamente selecionados- para moralizar os hábitos do povo. Posteriormente já sob o Império de Napoleão III é “Faire du lecteur, même lorsqu’il est sorti du circuit de la scolarisation, um lecteur acompagné, voilá bien l’objectif central de la mise en place des premières bibliothèques.”(p.550). Há, porém nos casos uma clara intenção em se substituir os livros “populares” por livros “escolhidos” e de incutir nos alunos o hábito de leitura. São particularmente bem “vigiados” os livros de história e os romances. Assim, durante o Terceiro Império, e a “belle époque” as bibliotecas escolares francesas se desenvolvem de maneira quase continua tentando conciliar os dois objetivos - ser bibliotecas de classes e biblioteca circulantes para as famílias dos alunos, confundindo-se sua função entre a “educativa” e moralizante.

No começo do século XX há uma progressiva separação entra as bibliotecas escolares e as bibliotecas públicas para adultos (p. 551).Por causa disso, muitos interpretam que houve um significativo atraso em matéria leitura na França, ao contrário de países como Reino Unido e Estados Unidos que se interessaram prioritariamente em desenvolver bibliotecas públicas, fora das escolas. De acordo com a visão de alguns historiadores por seus critérios de seleção de livros e tipos de bibliotecas o Estado francês não permitiu por muito tempo que a leitura pública se fixasse como hábito entre a população, pois se constituiu como uma instituição autoritária e paternalista (p. 551 e 552). Para o historiador Jean-Jacques Darmon, dentro de uma perspectiva da história das idéias, “la bibliothèque scolaire relève d’une logique sociale e politique cohérente. Elle fait partie d’um ensemble d’instituitions d’acculturation, tout à la fois soucieuses d’incitation à la lecture et de censure.” (p. 552). Assim, apesar de ser uma instituição de controle social, a biblioteca escolar também serviu na França do século XIX para introduzir muitos homens e mulheres na cultura escrita. Para alguns historiadores, porém, não haveria uma oposição entre as leituras escolares e leituras não escolares.
Como já foi ressaltado, ao longo deste período houve importantes modificações empreendidas na política pública específica para as bibliotecas. Estas modificações, muitas vezes alteraram o conteúdo (seus livros), o público e a direção que sua implementação tomava. Houve períodos em que os livros foram direcionados às leituras técnicas e pragmáticas (DURUY), em outros já se encaminhou para os livros literários, história e biografias. No final do século XIX a intenção é aportar o essencial dos “saberes e das referências culturais deste século”: a história e a biografia são preponderantes, acrescentam-se à lista clássicos da literatura, do direito e das ciências. As crianças são, portanto, negligenciadas, apesar da existência na seleção do governo de alguns livros para este público específico. Já sob hegemonia republicana (1876) as bibliotecas de escola tornaram-se aos poucos bibliotecas populares de escolas, uma nova política foi empreendida, apelou-se às municipalidades e associações de amigos. As bibliotecas escolares passam a se inscrever em um sistema mais vasto de bibliotecas públicas populares, perdem sua especificidade.

Porém, em 1915, já existem na França 50.000 bibliotecas escolares, em 73% das escolas. Sob a administração de Jules Ferry realiza-se um projeto de bibliotecas escolares circulantes, ou seja, a troca de livros entre bibliotecas. Posteriormente, sob seu sucessor, as bibliotecas das escolas são novamente chamadas de bibliotecas escolares e mais uma vez, votando-se preferencialmente ao público escolar: “René Goblet, pourtant véritable successeur de Jules Ferry dans la mise em oeuvre des grandes réformes scolaire, laisse entendre que l’armoire-bibliothèque esd’abord un instrument à l’usage des eleves.” (p. 572). Neste momento, as bibliotecas escolares voltam-se para as crianças e debates pedagógicos são realizados para discutir como educá-las para a leitura. A biblioteca escolar passa então a ser considerada um instrumento pedagógico maior.De 1875 à 1891 o seu conteúdo altera-se radicalmente, os catálogos oficiais que antes apresentavam uma predominância de romances, novelas, peças de teatro e poesias destinadas aos adultos, passam a contar com uma maioria de títulos voltados para os alunos. Assim de 1890 até 1815 as bibliotecas escolares encontram sua “via política” fora de seu projeto inicial – separam sua função daquelas bibliotecas voltadas para o público adulto.

“Quand la scolarisation primaire est devenue massive et lorsque l’alphabétisme apparaît vaincu, les effors visant à faire entrer en lecture les enfants et les adultes ne peuvent plus relever de la même instituition, des même gestesou des mêmes corpus de textes.” (p. 573)

[1] Circulaire aux prefetsdu 31 mars 1860 IN: HÉBRARD

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