quinta-feira, 3 de julho de 2008

Exaltation romantique


Chateaubriand - Exaltation romantique

Exaltação Romântica

Souvent j'ai suivi des yeux les oiseaux de passage qui volaient au-dessus de ma tête. Je me figurais les bords ignorés, les climats lointains où ils se rendent ; j'aurais voulu être sur leurs ailes. Un secret instinct me tourmentait ; je sentais que je n'étais moi-même qu'un voyageur, mais une voix du ciel semblait me dire : Homme, la saison de ta migration n'est pas encore venue ; attends que le vent de la mort se lève, alors tu déploieras ton vol vers ces régions inconnues que ton cœur demande.

Freqüentemente eu segui com meus olhos os pássaros que sobre minha cabeça passavam. Eu me imaginava em costas ignoradas, os climas longínquos para onde eles vão; eu gostaria de estar sobre as asas suas. Um segredo instintivo me atormentava, eu sentia que eu não seria mais eu, mas apenas um viajante, mas que uma voz no céu pareceria me dizer: homem, a estação da tua migração ainda não veio; espera que o vento da morte se levante, então você se arrependerá de teu vôo para regiões desconhecidas que lhe pede o coração.

Levez-vous vite, orages désirés qui devez emporter René dans les espaces d'une autre vie ! Ainsi disant, je marchais à grands pas, le visage enflammé, le vent sifflant dans ma chevelure, ne sentant ni pluie, ni frimas, enchanté, tourmenté et comme possédé par le démon de mon cœur.

Levem-se de súbito tempestades desejosas que devem levar René para os espaços de uma outra vida ! Assim dizia eu enquanto andava em largos passos, o olhar inflamado, e o vento assobiando em meus cabelos, não sentindo nem a chuva, nem a geada, encantado, atormentado e como que possuído pelo demônio de meu coração.

La nuit, lorsque l'aquilon ébranlait ma chaumière, que les pluies tombaient en torrent sur mon toit, qu'à travers ma fenêtre je voyais la lune sillonner les nuages amoncelés, comme un pâle vaisseau qui laboure les vagues, il me semblait que la vie redoublait au fond de mon cœur, que j'aurais la puissance de créer des mondes.

De noite, quando o vento do norte fizesse tremer o telhado em chaumière, em que as chuvas caíssem em torrente sobre meu teto, que além da janela eu veria a lua percorrer o céu, as nuvens amontoadas, como um pálido navio que coalhariam as ondas, e me pareceria que a vida se renovava no fundo de meu coração, que eu teria o poder de criar outros mundos.

François-René de Chateaubriand (4/09/1768 - 4/07/1848) - René (1802)

Tradução: Augusto Patrini Menna Barreto Gomes


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