segunda-feira, 3 de março de 2008

Ciúme e confiança





Por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes
msn: gomesaugusto@hotmail.com





Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e principalmente por ser comum”. Assim explicava o filosofo francês Roland Barthes o ciúme que sentia. Mas o que é o ciúme? Sabemos que o ciúme é aquele sentimento chato, para não falar venenoso, e às vezes pegajoso, que torna nosso amor inquieto e até doloroso. Podemos senti-lo em nossos relacionamentos amorosos ou até mesmo na família e com os amigos. Em um relacionamento, ele é um desejo de posse da pessoa amada ou até a suspeita de sua infidelidade.
Algumas pessoas acham que o ciúme é extremamente prejudicial a qualquer relacionamento, outras, porém, consideram-no um “tempero” necessário ou inevitável. E em certa medida é até normal sentir ciúmes. Ele é um sentimento comum em muitos relacionamentos.
Apesar de muitas vezes estabelecerem formas de relacionamento diferentes do modelo heterossexual-monogâmico, gays, lésbicas e bissexuais não são imunes a este sentimento, mesmo porque o ciúme é um sentimento polêmico, que causa muitas discussões.
Kan Chim, 20 anos, estuda economia na USP em São Paulo. Atualmente namora um estudante de artes cênicas e acha que o ciúme só é bom quando é “de brincadeira”. Mesmo assim, acha que talvez sentir ciúmes seja uma prova de amor. “Talvez seja uma prova de que realmente aquela pessoa é de alguma importância para você, mas não significa necessariamente amor, pode ser apenas também possessão”, opina. Rindo, acrescenta que o ciúme pode vir a ser “construtivo” se for utilizado na maneira correta, para “valorizar-se” perante o namorado.
Já Sérgio B., editor paulistano, 41 anos que tem um namorado e não se considera nem um pouco ciumento, acha que o ciúme é destrutivo em qualquer relação, tanto em namoros e casamentos, quanto entre amigos ou na família. Para ele não há "dose" ideal para o ciúme: “Eu entendo uma relação de forma linear: quanto mais ciúmes, mais problemas em uma relação. O ciúme no sentido afetivo é carência e imaturidade e o ciúme no sentido sexual é moralismo, insegurança e machismo”. Como muitos gays, sua proposta para um relacionamento, entre dois homens, é o relacionamento aberto. “Muitos namorados a princípio acharam a proposta ótima, mas acabaram cedendo às forças sociais e tiveram crises de ciúmes. É claro que o relacionamento acabou neste ponto. Por outro lado, tive vários outros namorados que no início acharam estranha a proposta aberta, mas com o tempo acabaram se revelando pessoas liberais e assumidas, seguras e equilibradas em todos os tipos de situações que ocorreram”, conta. Para ele o amor não tem relação com ciúme. “Se houver alguma, a relação é obrigatoriamente inversa: quem ama não sente ciúme. O ciúme guarda uma estreita relação com o sentimento de posse e com o egoísmo. O amor é entrega e altruísmo”, enfatiza.
Para Sergio Mahlmann, advogado, curitibano de 36 anos que mantêm um relacionamento estável com um rapaz de 28 anos, o ciúme decorre de um sentimento de posse. No entanto, para ele, parece inevitável que quando se tem uma relação cotidiana de amor com outra pessoa apareça uma pouco de ciúmes. “É um sentimento que se revela pelo medo de que a pessoa que amamos possa a vir amar outra pessoa, ‘trocar-nos’ e com isso possamos perdê-la”, afirma. Apesar disto, Sergio acha que o ciúme atrapalha quando ele se excede, e, principalmente, limita a liberdade no relacionamento: “não sou ciumento. Tenho ciúme moderadamente, mas nada que impeça meu companheiro de sair sozinho com seus amigos, de olhar outros homens e até mesmo de transar com outros, desde que seja apenas sexo, seguro, eventual e sem qualquer envolvimento afetivo. Como ele bem diz, sexo é apenas sexo, mas sexo com amor somente entre nós dois. Temos apenas um pacto que sempre cumprimos: quem transar com outro deve tomar todas as medidas de segurança e, obrigatoriamente contar ao outro. Reforça-se assim a confiança”. Como a maioria das pessoas ele pensa que o ciúme não é termômetro de amor, mas deriva da confiança. “Na verdade, se amo e confio no meu companheiro, terei o menor ciúme possível”.
Júlio A. G. E., brasileiro que vive em Portugal, formado em gestão teatral, entende, por outro lado, que o ciúme é uma construção social inserida em nossas mentes como uma forma de controle da sociedade, que dita como devemos conduzir nossos relacionamentos, por meio de telenovelas, filmes, e até da literatura. Mas, além disso, ele considera que a existência do ciúme em um relacionamento, em certa dose, pode ser positiva. “Ele é positivo quando ele faz saber o quanto se deseja alguém, é bom para o ciumento porque pode dar-se conta que realmente quer a outra pessoa, e também para a vitima do ciúme, pois também fica sabendo que é querida”. Ele conta, entretanto, que viveu uma relação onde o ciúme foi razão da separação. “Era um ciúme infundado, e agora, anos depois, chegamos à conclusão que ele tinha ciúmes de mim porque inconscientemente esperava que eu fizesse o mesmo que o pai dele fazia à mãe”, completa.
Marco Antonio García tem 20 anos, é bibliotecário, e mora na Parada Inglesa, zona Norte de São Paulo. No momento está solteiro, mas seu último namoro durou um ano e 4 meses. Para ele ciúme é uma defesa do ser humano para demarcar o que é seu. “Ciúme nada mais é do que uma das formas de dizer ‘eu gosto de você e não quero te perder’. O ciúmes pode ser também uma demonstração de medo, medo da perda, medo de ficar sozinho, medo de sofrer com a perda.”, afirma. Ele conta que já foi um ciumento possessivo! “Meu último namorado perdeu amigos por causa do meu ciúme. Hoje eu vejo que exagerei e que meu ciúme necessita ser ‘vigiado’. Bom, eu sempre fui um pouco terrível. Fiz meu antigo namorado, por diversas vezes, escolher entre eu ou os amigos. Já fiz escândalos no meio da rua por causa do ciúme. Imagine a cena. O povo todo olhando as bichas brigando por causa de ciúme. Hoje eu dou risada, mas confesso que é algo super chato”, diz. Mesmo assim, ele acha que o ciúme é bom, quando o companheiro consegue trazê-lo na forma de demonstração de carinho, sem que se torne uma algema. Mas para ele falta de ciúme pode significar falta de envolvimento ou desprendimento sentimental.

Para entender o ciúme

Polêmicas à parte, o ciúme é, na opinião profissional do Psicólogo Alexandre Z., um sentimento que surge nos relacionamentos afetivos, sejam eles entre família, amigos, namoros, casamentos ou concubinatos, que está basicamente relacionado com a segurança e auto-estima das pessoas envolvidas. Se um indivíduo se sente seguro frente aos seus próprios sentimentos em relação à outra pessoa, o ciúme tende a ser menor ou nulo. Isso não quer dizer, porém, que as pessoas que sentem ciúmes são totalmente inseguras ou com baixa auto-estima. Ele nos explica que na psicologia humana existe o que se chama de “mecanismos de defesa do ego”. Estes mecanismos são as formas que os indivíduos encontram para amenizar fatos da vida que são difíceis. No caso do ciúme, o mecanismo de defesa mais utilizado é a “Projeção”, que acontece quando uma pessoa "transfere" seus impulsos ou sentimentos para a outra pessoa. Ele explica: “João e Antônio são um casal e moram juntos. Antônio tem uma crise de ciúmes porque seu João chegou tarde em casa e não o avisou. Neste caso típico João pode ter apenas se atrasado devido uma reunião e seu celular estava sem bateria. Mas para Antônio, sua ”fantasia" é de que João o estava traindo ou algo parecido. Mas na verdade, inconscientemente Antônio teme que ele mesmo tenha esta atitude frente a uma outra pessoa da qual sente atração."
Assim entendemos, finalmente, que, para a psicologia, o ciúme está muito ligado ao nosso próprio temor de sentirmos atração por outra pessoa. E como inconscientemente nós sentimos este temor, vamos "projetar" na outra pessoa que amamos esta atitude e cobrá-la quando nos sentirmos inseguro por algum motivo.



Entenda o Ciúme:


Para a psicologia:

Ciúmes = fantasia + insegurança + projeção

Dica:
Se você é ciumento, não se torture. Quando sentir que o ciúme vai aparecer, tente contar até 10 antes de fazer algum escândalo ou então voar em cima do seu namorado, ou até então pular em cima do rapaz que olhou para ele. Lembre-se que ele pode ser apenas fantasia e insegurança.

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