segunda-feira, 3 de março de 2008

Os Sonhadores





Por Augusto Patrini Menna Barreto Gomes




Hoje finalmente entendi a grande problemática de Bertolucci em "Os Sonhadores". Maio de 68 foi um momento significativo na história não por suas passeatas e piquetes, mas por que foi o momento em que os estudantes trouxeram o sexo, o amor, as relações pessoais para a política, rompendo com os Partidos Comunistas e com, digamos, a “grande” política – aquela dos gabinetes e do Estado. Deste então, o que ficou de maio de 68 é que tudo é política, até comer, andar, amar, sonhar etc. O tema dá muito pano para manga, e pensar nisso é mais que urgente em uma sociedade como a brasileira transfigurada por um profundo senso de futilidade. Entretanto, como se sabe maio de 68 também resvalou em tipos de totalitarismos; na verdade essa temática da derrota de 68 foi bem tratada no filme "Amantes Constantes", um complemento ao filme "Os Sonhadores"
Porém acho que temos que começar a pensar a revolução -libertação e as transformações sociais em outros termos. Está na hora da revolta subverter a vida cotidiana, radicalizar a luta por liberdade, interior e exterior, por uma liberdade radical além dos utilitarismo e dos valores monetários, está na hora de aceitarmos a arte como força subversiva. Também acho que está na hora de se romper com os termos pensados pela revolução russa (Lênin e Trotsky), para buscarmos novas fontes teóricas de inspiração (Guy Debord, Adorno, W. Benajmin. Marcuse, Antonio Negri, Michel Maffesoli, Johonn Hallowey, Edward Said, Max Stiner entre outros).
Lembremos que hoje a dominação é tão grande e eficiente que está até mesmo nas mentes, nos corpos e na expressão dos homens. Esta forma de dominação, como já definiu Marcuse, é uma forma de poder que regula a vida social por dentro, tornando-se uma gerência absoluta sobre a existência do povo. Esta idéia de “sociedade de controle” apresenta bem a feição central dos conceitos das estruturas de opressão da atualidade. Hoje, a maioria dos indivíduos nem ao menos percebe estes mecanismos de controle. Acho que a esquerda é vítima destes mesmos mecanismos e nem ao menos percebe.
Na verdade começo a crer que simplista seria continuar a acreditar nos espaços modernos de se fazer política. Acho que a contestação atual deve ser feita na busca de um novo espaço e um novo sujeito, isso, por que acredito que devemos recuperar uma luta política "depois que o empenho das arenas políticas nos estados nacionais perdeu sentido e eficácia. Como diz Antonio Negri: "a despolitização do mundo por parte dos grandes poderes não é só negativa, quando está voltada à eliminação ou desmascaramento de velhos poderes e formas de representação que não têm mais nenhuma referência real."
Considero que as singularidades são as chaves para a revolução e transformação do mundo, já que no mundo do trabalho imaterial o instrumento é o cérebro. E por isso a apropriação da multidão deste trabalho imaterial se faz radicalmente necessária e indispensável. As velhas formas de se fazer política e representações que consideram o Estado não servem mais. A "mestiçagem" e o "nomadismo" serão, talvez os novos instrumentos de luta da Multidão contra o Império.
Vale a pena pensar e debater sobre... não?

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